O governo estava preocupado com a escolha do presidente e do relator da CPI instaurada para investigar a atuação do crime organizado, temendo a possível repercussão negativa para a imagem da administração. No entanto, o próprio presidente Lula (PT) tratou de tornar essa preocupação supérflua, contribuindo significativamente para piorar a já precária imagem que seu governo e seu partido possuem quando o assunto é segurança pública.
Lula declarou que a megaoperação realizada no Rio de Janeiro não passou de uma matança, classificando-a como desastrosa e determinando que fosse investigada pela Polícia Federal, subordinada ao seu ministro da Justiça. A declaração vai na contramão das pesquisas de opinião e da sabedoria consagrada do marketing político, segundo a qual, quando a maré é muito contrária, o melhor é tentar passar por baixo da onda — para evitar o “vira-vaca”, na gíria dos surfistas.
Ao agir dessa forma, Lula resolveu desafiar as convenções da política e ignorar sua baixa reputação em matéria de combate à corrupção e ao crime organizado, além da percepção, confirmada por diversas pesquisas, de que é incapaz de melhorar a segurança pública no país. Trata-se de uma manobra de altíssimo risco, considerando que o tema da segurança é, no momento, a prioridade número um para o eleitor.
Há poucos dias, o próprio Lula se beneficiava dos crassos erros políticos cometidos pela oposição. No entanto, com o que disse nesta terça-feira (4), parece ter resolvido devolver o favor. Lula não é muito afeito à leitura das frases da antiguidade clássica, mas uma das mais famosas, datada dos tempos da Grécia Antiga, ensina que “os deuses primeiro enlouquecem aqueles que desejam destruir”. É a arrogância — a hýbris — que conduz à ruína.