O presidente dos EUA, Donald Trump, associou o uso de Tylenol durante a gravidez a um risco acentuado de autismo.
Ao comentar na segunda-feira (22) que a FDA notificará médicos para desaconselharem o uso do medicamento em gestantes, Trump mencionou rumores de que Cuba não tem casos de autismo.
“Quero dizer, há um boato — e não sei se é verdade ou não — de que em Cuba não têm Tylenol porque não têm dinheiro para Tylenol. E que praticamente não têm autismo, certo? Me contem sobre isso”, disse ele.
Apesar da hipótese levantada pelo líder dos EUA, o autismo existe sim em Cuba.
Durante anos, o sistema médico estatal da ilha tem operado clínicas para tratar cubanos com autismo e realizado campanhas para conscientizar sobre esse transtorno neurológico do desenvolvimento.
Cuba inclusive oferece terapias especializadas para o autismo, como nadar com golfinhos, para estrangeiros que buscam tratamento e podem pagar na tão necessária moeda forte.
As autoridades cubanas ainda não responderam aos comentários de Trump. Mas há anos os médicos cubanos detalham publicamente os esforços feitos para tratar crianças na ilha que sofrem de autismo.
“Cada pessoa autista é única, e seu bem-estar depende de escutar, compreender e caminhar ao seu lado, sabendo que a inclusão não se mede por palavras, mas por abraços que respeitam o silêncio e celebram as diferentes formas de existir”, disse a Dra. Osmara Delgado Sánchez ao site estatal Cubadebate em 2 de abril, que é o Dia da Conscientização sobre o Autismo.
Embora Cuba tenha registrado uma incidência muito menor de autismo do que muitos países desenvolvidos — 0,36 casos a cada 10 mil pessoas —, os profissionais de saúde da ilha reconhecem que isso pode ser, em parte, resultado da falta de recursos para diagnosticar a condição de forma mais abrangente.
Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), em 2021, cerca de 1 em cada 127 pessoas tinha autismo.
Mas a OMS alertou que “a prevalência do autismo em muitos países de baixa e média renda é desconhecida”.
Apesar dos recursos cada vez mais escassos, o setor de saúde cubano, bastante afetado, está priorizando o autismo, disseram as autoridades.
No mesmo artigo do Cubadebate, Delgado afirmou que há 300 profissionais de saúde cubanos especializados em autismo trabalhando em sete centros em toda a ilha dedicados ao tratamento de pacientes com autismo.
Cuba, segundo ela, desenvolve tratamentos específicos para o autismo desde 2018.
“Não falamos em curar (os pacientes cubanos com autismo)”, disse Delgado ao site. “Mas sim em maximizar habilidades… para que ninguém fique para trás.”
OMS rebate associação
A Organização Mundial da Saúde (OMS) e agências internacionais de saúde rebateram, nesta terça-feira (23), declarações recentes de Trump que sugerem uma relação entre o uso de paracetamol, princípio ativo do medicamento Tylenol, durante a gravidez e o risco de autismo em crianças.
O porta-voz da OMS, Tarik Jasarevic, declarou em coletiva de imprensa que as evidências de uma associação entre o paracetamol e o autismo “continuam inconsistentes”.
“Então, isso é algo científico, e essas coisas não devem ser realmente questionadas”, acrescentou, em coletiva de imprensa realizada em Genebra, na Suiça.