As severas condições climáticas das últimas 72 horas em Gaza deixaram 14 mortos, incluindo três crianças, disse à CNN o diretor-geral do Ministério da Saúde de Gaza, Munir Al-Boursh.
Nos últimos dois anos, muitos palestinos não tiveram outra opção senão se mudar para tendas e abrigos temporários em meio à guerra devastadora que deixou grande parte do enclave em ruínas.
Tendas foram inundadas e palestinos foram abandonados “atravessando esgoto, lama e entulho sem abrigo adequado”, afirmou a organização humanitária Oxfam em comunicado neste sábado (13), acrescentando que as difíceis condições são “resultado direto da obstrução sistemática da ajuda”.
Palestinos imploraram por ajuda em meio ao frio e à chuva que deixaram seus pertences encharcados e destruídos.
“O colchão, o cobertor, tudo, até as roupas, ficaram encharcados. Tragam-me um colchão. Tragam-me uma barraca. Eu imploro, pelo amor de Deus, me ajudem”, disse Um Mustafa à CNN na sexta-feira.
Ela disse que a única comida que lhe restava, um saco de farinha e arroz, estragou depois de ter ficado encharcada, o que a deixou em pânico no meio da noite.
“Saí gritando para os vizinhos, pedindo ajuda”, disse ela. “Todos os meus filhos ficaram encharcados pela água da chuva.”
Tendas, abrigos temporários e até mesmo edifícios, enfraquecidos pelos bombardeios israelenses durante a guerra, desabaram com famílias dentro, segundo autoridades e palestinos em Gaza.
Um bebê de oito meses chamado Rahaf morreu de hipotermia, informou sua família à CNN.
Mais de 27 mil tendas foram arrastadas e inundadas, informou o gabinete de imprensa do governo controlado pelo Hamas em um comunicado. O “desastre humanitário complexo” afetou pelo menos 250 mil pessoas, segundo o mesmo comunicado.
Israel e o Hamas chegaram a um cessar-fogo em outubro, permitindo a libertação de todos os reféns israelenses ainda vivos e pondo fim à guerra que durava dois anos. Israel autorizou a entrada de ajuda humanitária em Gaza para implementar a primeira etapa do acordo.
Mas a Oxfam afirmou que as autoridades israelenses “continuam a bloquear a entrada de materiais básicos para abrigo, combustível e infraestrutura de água”, o que deixa as pessoas expostas a “danos totalmente evitáveis”.
“Quando o acesso é negado, as tempestades se tornam mortais. Esse sofrimento está sendo fabricado por políticas públicas, não pelo clima”, afirmou o grupo em comunicado.
A COGAT (Coordenação das Atividades Governamentais nos Territórios), agência israelense encarregada de facilitar a distribuição de ajuda humanitária em Gaza, afirmou em comunicado que Israel está “comprometido” e “cumpre integralmente” sua “obrigação de transferir caminhões com ajuda humanitária de acordo com o acordo”.
“Nesse contexto, centenas de caminhões entram diariamente carregando alimentos, água, combustível, gás, medicamentos, equipamentos médicos, barracas e materiais para abrigo”, afirmou a agência.
“Nos últimos meses, o COGAT coordenou com a comunidade internacional e facilitou a transferência de cerca de 270 mil barracas e lonas diretamente para os moradores da Faixa de Gaza.”
“Estamos planejando uma resposta humanitária personalizada para o próximo inverno”, disse o COGAT.
Apesar do apoio público do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, ao acordo em setembro, ainda existem lacunas significativas para o avanço do cessar-fogo.
Os EUA estão pressionando para avançar rapidamente para a próxima fase, mas Israel condiciona medidas importantes à libertação do último refém morto e tem resistido aos esforços americanos para resolver o impasse com um grupo isolado de militantes do Hamas nas áreas ocupadas por Israel no sul da Faixa de Gaza.