O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, se encontram neste domingo (26), em Kuala Lumpur, na Malásia, em meio à expectativa de um avanço diplomático capaz de reduzir as barreiras comerciais impostas ao Brasil, num momento em que os dois países vivem sua maior crise diplomática em 200 anos de uma relação bilateral.
Essa será a primeira reunião presencial agendada entre os dois presidentes desde a reeleição de ambos. Lula e Trump estão na Malásia para participar da 47ª reunião de cúpula da Asean (Associação de Nações do Sudeste Asiático).
A Casa Branca confirmou o encontro entre os líderes neste domingo (26).
A expectativa de assessores palacianos que acompanham o presidente brasileiro na Malásia é de que a conversa com o chefe dos Estados Unidos seja rápida e com troca de afagos.
Para interlocutores de Lula, o encontro é visto como um “quebra-gelo” diplomático, sem expectativas de acordos imediatos.
É esperada a divulgação de uma nota à imprensa após o encontro.
Segundo apuração da CNN, a reunião está prevista para acontecer entre 6h e 7h da manhã, no horário de Brasília (17h e 18h no horário local), no Centro de Convenções da capital malaia, em um ambiente considerado “campo neutro” por diplomatas.
Ainda na noite de sábado (25), Lula afirmou que o governo brasileiro “ainda não recebeu exigências” de Washington sobre redução ou retirada das sobretaxas aplicadas aos produtos brasileiros.
“Não tem exigência dele e não tem exigência minha ainda. Vamos colocar na mesa os problemas e tentar encontrar uma solução. Pode ficar certo que vai ter uma solução”, disse Lula a jornalistas após compromissos oficiais na Malásia.
Trump, por sua vez, declarou durante o voo entre Washington e Kuala Lumpur, a bordo do Air Force One, que está aberto a baixar as tarifas sobre a pauta exportadora brasileira, mas que a revisão do tarifaço pode ocorrer “sob as circunstâncias certas”, sinalizando disposição para negociar.
Foco no comércio e na diplomacia
Um anúncio ou acordo referente à interrupção das tarifas de 50% impostas pelos EUA ao Brasil não deve ocorrer. A ideia é que conversem rapidamente sobre a expectativa de promoveram uma reunião formal em um futuro próximo.
De acordo com auxiliares dos dois governantes, o diálogo deverá se concentrar em temas econômicos, mas incluirá também política regional e questões ambientais.
Lula tenta assegurar um caminho de entendimento que ajude a reaproximar os países após meses de tensão comercial. Fontes do Planalto relatam, ainda, à CNN, que o presidente busca evitar que a situação da Venezuela domine a reunião, para não desviar o foco do impasse tarifário.
Lula chega ao encontro com dois principais objetivos: restabelecer o diálogo direto com o governo americano e garantir uma sinalização prática de redução de tarifas que afetam a indústria brasileira.
Interlocutores avaliam que, mesmo sem resultado imediato, uma conversa produtiva poderá pavimentar o terreno para uma revisão gradual das medidas.
Otimismo e cautela
“Estamos otimistas”, disse o presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Ricardo Alban, à CNN, destacando que a reunião é vista pelo setor produtivo como “uma oportunidade de destravar o comércio e restabelecer previsibilidade”.
Segundo Alban, a indústria brasileira confia que o diálogo direto entre chefes de Estado possa acelerar soluções técnicas que vêm sendo discutidas sem avanço há meses.
Lula, que completou 79 anos nesta semana, chegou a brincar ao convidar Trump para “um pedacinho de bolo” em tom diplomático. O gesto reforçou o clima de tentativa de reaproximação entre os governos.
Apesar do otimismo, fontes do Itamaraty admitem que a discussão ainda é sensível. No sábado, assessores dos dois lados avaliavam se haverá uma sessão aberta à imprensa. Auxiliares de Lula manifestaram preocupação com o formato, buscando evitar qualquer constrangimento público. Mesmo assim, há expectativa de um encontro cordial, repetindo o tom das recentes trocas de mensagens entre os dois presidentes.
Ao encerrar sua fala no sábado, Lula reforçou o tom conciliador que pretende adotar neste domingo: “Vim aqui com disposição para que a gente possa encontrar uma solução. Tudo depende da conversa”.
Também há a previsão de que Lula reafirme o convite para que Trump compareça à COP30, em novembro, e se apresente como um mediador para conflitos na América do Sul, apurou a CNN.
*Com informações de Américo Martins, Gustavo Uribe, Isabel Mega, Daniel Rittner e Jussara Soares