A Rússia concordou em ajudar a China a equipar e treinar um batalhão aerotransportado, segundo documentos vazados analisados por um importante instituto de pesquisa. O acordo é um exemplo da parceria militar cada vez mais profunda entre Pequim e Moscou.
Em 2023, a Rússia concordou em vender um conjunto de equipamentos militares para o Exército de Libertação Popular (ELP) da China, incluindo veículos de assalto, canhões antitanque e veículos blindados de transporte de tropas aerotransportados, de acordo com documentos vazados pelo grupo de hackers ativistas Black Moon e verificados pelo instituto britânico Royal United Services Institute (RUSI).
Os veículos blindados seriam equipados com sistemas chineses de comunicação e comando e controle, e a Rússia treinaria um batalhão de paraquedistas chineses para utilizá-los, segundo as aproximadamente 800 páginas de contratos e materiais adicionais analisados pelo RUSI.
Sob os termos do acordo, a Rússia também transferiria tecnologias para a China, permitindo que o país fabrique armamentos similares, mostra a análise dos documentos.
O acordo, se totalmente implementado, fortaleceria as capacidades de manobra aérea da China, uma das poucas áreas em que o exército de Moscou ainda mantém vantagem sobre o ELP. E a melhoria nessa área poderia – segundo especialistas do RUSI – ajudar a China a alcançar seu objetivo de tomar Taiwan, a ilha autônoma de 23 milhões de habitantes que Pequim reivindica como seu território.
“A Rússia está equipando e treinando grupos de forças especiais chinesas para penetrar no território de outros países sem serem notados, oferecendo opções ofensivas contra Taiwan, Filipinas e outros estados insulares da região”, escreveram os pesquisadores do RUSI, Oleksandr V Danylyuk e Jack Watling, em uma análise do acordo.
As Filipinas são uma das várias nações que têm reivindicações territoriais conflitantes com Pequim no Mar do Sul da China. Embarcações de ambos os países frequentemente se confrontam na região, à medida que a China se torna mais assertiva em suas reivindicações.
A CNN não revisou independentemente os documentos vazados, e não está claro se o acordo foi totalmente implementado. A CNN entrou em contato com o Ministério da Defesa Nacional da China para comentários.
Rússia e China comercializam armas desde os anos 1990, mas na última década sua parceria militar se tornou mais robusta à medida que os laços entre o presidente russo, Vladimir Putin, e o líder chinês, Xi Jinping, se estreitaram, disparando alertas em Washington.
Xi, Putin e o líder norte-coreano, Kim Jong-un, estiveram lado a lado no mês passado durante um desfile militar chinês, em uma demonstração sem precedentes de solidariedade contra os EUA e seus aliados.
Moscou e Pequim cada vez mais consideram a relação próxima como um fator crucial para atingir seus respectivos objetivos. No início deste mês, Putin afirmou que o relacionamento bilateral estava em um “nível sem precedentes” enquanto os dois países supostamente assinaram um acordo para construir um novo gasoduto para enviar gás natural à China via Mongólia.
Moscou tem se voltado cada vez mais para a China para substituir a Europa como seu principal comprador de gás, desde sua invasão da Ucrânia em fevereiro de 2022.
Moscou e Pequim também têm intensificado seus exercícios militares conjuntos nos últimos anos, incluindo patrulhas navais conjuntas ao redor do Japão e patrulhas aéreas e marítimas próximas ao Alasca. Em agosto, realizaram sua primeira patrulha conjunta de submarinos no Pacífico, segundo relatos da mídia estatal.
China e Rússia realizaram 14 exercícios militares conjuntos em 2024, o maior número desde que os dois países começaram a fazer exercícios juntos em 2003, de acordo com o Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais.
O maior benefício do acordo de 2023 para Pequim, segundo os pesquisadores do RUSI, seria no treinamento do batalhão aerotransportado, já que as forças russas têm experiência em combate nessa área, enquanto as chinesas não.
Se a China atacasse Taiwan, uma manobra aérea provavelmente seria a forma mais eficaz de levar tropas e equipamentos essenciais para a ilha nos estágios iniciais de uma operação – embora qualquer tentativa de invadir e manter a ilha provavelmente exigiria um assalto anfíbio enorme e muito difícil por mar.
Segundo o acordo, o treinamento seria realizado parte na Rússia e parte na China. Instrutores russos então treinariam o batalhão aerotransportado chinês em campos de treinamento na China, preparando os soldados para pouso, controle de fogo e manobras.