O trecho argentino da Rota Bioceânica, corredor que pretende abrir um novo caminho para as exportações brasileiras pelo Oceano Pacífico, enfrenta significativos desafios em sua implementação.
O percurso de aproximadamente 700 quilômetros que atravessa o território argentino apresenta as maiores dificuldades entre os quatro países participantes do projeto.
Um estudo do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) identificou 11 problemas críticos na região fronteiriça, incluindo a ausência de condições mínimas para o transporte seguro de cargas e deficiências na infraestrutura de acesso
A situação é agravada pela existência de 26 quilômetros de estrada não pavimentada logo após a fronteira, sem perspectivas imediatas de obras.
Potencial do lítio
A região atravessada pela rota inclui o chamado Triângulo do Lítio, formado por Argentina, Chile e Bolívia, que concentra quase metade das reservas mundiais do mineral, totalizando 57 milhões de toneladas.
O lítio é componente essencial na fabricação de baterias para veículos elétricos e dispositivos eletrônicos, sendo objeto de disputa geoeconômica entre Estados Unidos e China.
Em Susques, povoado argentino localizado a 4 mil metros de altitude próximo à fronteira com o Chile, a empresa Excer, que conta com capital chinês, mantém uma planta industrial com potencial para produzir 40 mil toneladas anuais de carbonato de lítio para baterias.
Desafios burocráticos
A integração aduaneira representa um dos principais entraves para o sucesso do projeto. Os relatos coletados durante a viagem apontam dificuldades na circulação de cargas e mercadorias devido ao número reduzido de funcionários e horários restritos de funcionamento nas alfândegas.
O professor Alejandro Safarov, integrante de uma rede acadêmica que estuda a rota, indica que o projeto nunca despertou interesse significativo dos agentes econômicos de Buenos Aires, que tradicionalmente priorizam investimentos no porto da capital argentina.
A concentração de 40% da população e 80% das exportações na região de Buenos Aires, Córdoba e Santa Fe contribui para essa resistência à descentralização logística.