Com o fim de 2025 se aproximando, uma das mais importantes revistas científicas do mundo, a Science, divulgou seu ranking com as dez maiores descobertas no ano.
Entre elas, se destacaram o uso da energia renovável, a edição genética, desenvolvimento de novos medicamentos, inteligência artificial, entre outras tecnologias que foram colocadas em prática em 2025. Veja abaixo a lista completa.
Crescimento da energia renovável
A escolha do primeiro lugar foi justificada porque, em 2025, fontes de energia renovável como o sol e o vento deixaram de ser apenas uma promessa sustentável e viraram um negócio financeiramente positivo do planeta.
O que mudou neste ano foi o barateamento das tecnologias, impulsionado principalmente pela produção em massa na China.
Em termos de números, 2025 foi um ano histórico, em que as renováveis finalmente deixaram o carvão para trás na geração global de eletricidade. De acordo com a Science, no primeiro semestre, o crescimento da energia solar e eólica deu conta de toda a nova demanda de energia do mundo.
Edição genética para doenças ultrarraras
Tudo começo com KJ Muldoon, um bebê que nasceu com defeitos em um gene chamado CSP1, que codifica uma enzima necessária para o fígado desintoxicar a amônia. Por ter essa doença, ele precisava manter uma dieta rigorosa para evitar o acúmulo prejudicial desse composto no sangue e no cérebro.
Cientistas fizeram um teste a partir da edição genética, que permitiram que o corpo de KJ controlasse os níveis de amônia com menos medicações e ganhasse peso.
A intenção é que esse tratamento seja usado em mais cinco pacientes com doenças semelhantes. A Food and Drug Administration (FDA), dos EUA, visa simplificar a exigência de testes clínicos para autorizar que a correção genética seja feita em mais pessoas com síndromes ultrarraras.
Medicamentos para gonorreia
A Science incluiu os novos tratamentos para gonorreia na lista porque eles são as primeiras armas reais contra essa doença em décadas — quando os antibióticos existentes estão apresentando falhas.
A escolha é fundamental porque a bactéria causadora se tornou resistente, ameaçando a saúde de mais de 80 milhões de pessoas por ano. Com a chegada desses remédios, os médicos podem ganhar tempo para tratar complicações graves, como a infertilidade, usando comprimidos ao invés de injeções dolorosas.
O grande destaque de 2025 foi a aprovação oficial de dois medicamentos, a gepotidacina e a zoliflodacina, pelo FDA, em dezembro. O segundo teve sua eficácia comprovada em um estudo global publicado no último dia 11, mostrando que o remédio funciona sem causar efeitos colaterais graves.
Doação de mitocôndrias à células cancerígenas
Pesquisadores descobriram que neurônios transferem mitocôndrias — as estruturas responsáveis pela produção de energia — para células cancerígenas.
Esse empréstimo energético torna o câncer mais ativo e aumenta sua capacidade de se espalhar pelo corpo, ajudando a explicar por que tumores crescem menos quando suas conexões nervosas são interrompidas.
Experimentos em laboratório, em animais e em tecidos humanos mostraram que essa troca ocorre por meio de pequenas estruturas que ligam as células e, embora poucas células do tumor original recebam mitocôndrias, a proporção cresce bastante nas metástases, especialmente no cérebro e nos pulmões.
A descoberta feita em 2025 abre caminho para novas estratégias de tratamento, que no futuro poderiam impedir essa transferência e dificultar a disseminação do câncer.
Telescópio sem precedentes
Um novo telescópio foi concluído no topo de uma montanha no Chile. O Observatório Vera C. Rubin vai varrer todo o céu, em vez de focar em alvos específicos, registrando o céu inteiro a cada três dias durante 10 anos.
O projeto usará tecnologias avançadas para lidar com uma enorme quantidade de dados — em um ano, coletará mais informações do que todos os outros telescópios da história, e construirá gradualmente o mapa 3D mais detalhado do cosmos já criado, acessível a todos por meio de um portal online.
Ele proporcionará uma visão privilegiada de muitos tipos de explosões cósmicas e ajudará a revelar como as galáxias se formam, crescem, se fundem e evoluem para gigantescas aglomerações ao longo do tempo cósmico, além de auxiliar nos estudos da matéria escura invisível.
O “Homem Dragão” e os humanos antigos
Um crânio enigmático, recuperado do fundo de um poço no nordeste da China em 2018, despertou o interesse dos arqueólogos ao não corresponder a nenhuma espécie conhecida de humanos pré-históricos.
Neste ano, cientistas encontraram evidências de onde esse fóssil se encaixa — e ele pode ser uma peça-chave em mais um enigma da evolução humana.
Após várias tentativas frustradas, os pesquisadores conseguiram extrair material genético do crânio fossilizado — apelidado de “Homem Dragão” — ligando-o a um grupo enigmático de humanos primitivos conhecido como denisovanos. Leia a história completa.
LLMs
Modelos de inteligência artificial que são treinados com uma grande quantidade de dados — as LLMs — deram um salto na ciência nos últimos anos.
Depois do impacto do AlphaFold2, os grandes modelos de linguagem passaram a demonstrar conhecimentos de nível de doutorado em várias áreas. Em 2025, eles surpreenderam ao resolver problemas complexos em matemática, química e biologia, alguns deles desafiando previsões feitas poucos anos antes.
Além de responder testes, esses modelos começaram a acelerar descobertas científicas reais. Eles ajudaram a reduzir experimentos em laboratório, identificar novos usos para medicamentos e reproduzir resultados que antes levavam anos.
Apesar de limitações e críticas, esses avanços impulsionaram uma forte onda de investimentos e indicam que o papel da IA na ciência deve crescer rapidamente, com efeitos ainda difíceis de prever.
Mistério da partícula
Durante muitos anos, os físicos esperaram que o múon revelasse falhas no modelo padrão da física de partículas.
Experimentos anteriores indicavam que o magnetismo dessa partícula era ligeiramente maior do que o previsto, o que poderia sinalizar a existência de novas partículas. Em 2024, porém, um teste de longa duração mostrou que essa diferença não existe mais.
O resultado negativo veio acompanhado de um avanço importante: os cientistas conseguiram calcular o magnetismo do múon com altíssima precisão usando a chamada teoria de gauge em rede e supercomputadores.
A nova previsão teórica bateu com a medição experimental, confirmando o modelo padrão. Mesmo sem revelar nova física, o feito representa um grande triunfo para os métodos modernos de cálculo na física de partículas.
Transplantes xenográficos
Após décadas de promessas e decepções, o xenotransplante avançou de forma concreta em 2025.
Órgãos de porcos geneticamente modificados passaram a funcionar por períodos cada vez mais longos em humanos, incluindo um rim com 69 genes alterados que operou por quase nove meses.
Esses resultados mostram que a modificação genética dos animais pode reduzir a rejeição e tornar os transplantes mais viáveis.
Os progressos também abriram caminho para testes clínicos oficiais, com empresas recebendo autorização da FDA para iniciar estudos em humanos. Ainda há desafios, como aumentar a durabilidade dos órgãos e aperfeiçoar os medicamentos contra rejeição, além de buscar novas formas de induzir tolerância imunológica.
Mesmo assim, os sucessos recentes indicam que o xenotransplante está mais próximo de se tornar uma solução real para a escassez de órgãos.
Arroz protegido do calor
Pesquisadores descobriram um gene que ajuda o arroz a resistir ao calor intenso, especialmente às noites quentes, que costumam reduzir a produtividade e piorar a qualidade dos grãos.
Chamado QT12, o gene impede que o calor desorganize o amido do alimento, evitando grãos quebradiços, esbranquiçados e de sabor ruim. Com isso, as plantas mantêm melhor qualidade mesmo em temperaturas elevadas.
A descoberta pode ser usada tanto em melhoramento genético tradicional quanto em engenharia genética. No futuro, genes semelhantes podem ajudar outras culturas, como trigo e milho, a enfrentar os efeitos das mudanças climáticas.