Putin diz que EUA usam guerra na Ucrânia para justificar tarifas ao Brasil

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse nesta quarta-feira (3) que os Estados Unidos usam a guerra na Ucrânia como pretexto para justificar as tarifas contra o Brasil e afirmou que há “problemas internos” em Brasília entre as autoridades atuais e o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Putin disse que não há desequilíbrio econômico entre o Brasil e os EUA.

“Existe uma desproporção no comércio entre os EUA e a Índia, os EUA e a China, mas não há desproporção nas relações econômicas entre o Brasil e os Estados Unidos”, declarou o presidente russo em uma coletiva de imprensa em Pequim.

O líder do Kremlin ainda acusou o governo americano de usar a guerra na Ucrânia como pretexto para resolver “questões de caráter econômico em relação a países cujas ligações desagradam alguém”, referindo-se às ameaças do presidente dos EUA, Donald Trump, de taxar países compradores de petróleo russo.

A invasão russa do território ucraniano não é mencionada no decreto assinado por Trump que determinou taxas de 50% ao Brasil. A carta publicada pelo presidente americano, endereçada ao presidente Lula, também não cita o conflito, tampouco o comunicado explicativo emitido pela Casa Branca.

No entanto, o Brasil é um dos maiores compradores de petróleo e fertilizantes russos, o que coloca o país na mira do governo Trump. As importações de diesel russo pelo Brasil, por exemplo, aumentaram em mais de 300 vezes desde o início da guerra: as compras saíram de US$ 16,9 milhões em 2021 e atingiram US$ 5,3 bilhões em 2024, segundo dados do MDIC (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio).

O analista de Internacional da CNN Lourival Sant’Anna apurou que os EUA podem adotar medidas comerciais contra a importação de óleo diesel russo pelo Brasil já na próxima semana. A medida não seria inédita: as tarifas contra a Índia foram elevadas de 25% para 50% como resposta do governo Trump à parceria comercial entre Nova Délhi e Moscou.

Mas Putin considera que a justificativa é apenas um pretexto para as ações americanas e cita problemas internos do Brasil como motivação.

“Há problemas internos lá, em arranjos políticos, incluindo as relações entre as autoridades atuais e o ex-presidente Bolsonaro. O que a Ucrânia tem a ver com isso? Nada”, afirmou o líder russo.

A carta de Trump que explica o tarifaço ao Brasil descreve o julgamento de Bolsonaro como uma “caça às bruxas” e acusa o Brasil de atacar eleições livres e a liberdade expressão de cidadãos americanos.

O julgamento também é citado nas justificativas do secretário do Tesouro, Scott Bessent, para aplicar a Lei Magnitsky contra o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes. “Moraes é responsável por uma campanha opressiva de censura, detenções arbitrárias que violam os direitos humanos e processos politizados — inclusive contra o ex-presidente Jair Bolsonaro”, afirmou o secretário americano.

As declarações de Putin foram feitas durante uma coletiva de imprensa em Pequim, onde o líder russo participou do desfile militar da China em comemoração aos 80 anos da rendição do Japão na Segunda Guerra Mundial.

A parada contou com a participação de adversários de longa data dos Estados Unidos. Além de Putin, o presidente chinês, Xi Jinping, também recebeu o líder norte-coreano Kim Jong-un e o presidente do Irã, Masoud Pezeshkian. O Brasil foi representado no evento pelo assessor especial da presidência para assuntos internacionais, Celso Amorim. A ex-presidente Dilma Rousseff também estava presente.

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