Produtivo, mas deprimido: entenda o que é depressão de alto funcionamento

A psiquiatra Judith Joseph diz que a alegria não é apenas algo bom de se ter — ela faz parte de quem somos. “Somos feitos com esse DNA da alegria. É nosso direito de nascimento como seres humanos”, afirmou à CNN recentemente.

Joseph também é pesquisadora, e fez da alegria sua missão de estudo — e também do que impede as pessoas de senti-la.

Seu trabalho, incluindo o novo livro “High Functioning: Overcome Your Hidden Depression and Reclaim Your Joy” (“Alta Performance: Supere Sua Depressão Oculta e Recupere Sua Alegria”, em tradução livre), vem chamando atenção justamente por sua pesquisa pioneira sobre a chamada depressão de alto funcionamento — que agora começa a ser levada a sério.

“Quis mostrar às pessoas que a depressão tem muitas caras”, diz Joseph. “Algumas pessoas sofrem com anedonia, que é a ausência de alegria”, explica. “Elas não parecem deprimidas, mas você não precisa estar triste para preencher os critérios de um diagnóstico de depressão.”

Joseph se inclui entre os indivíduos que já enfrentaram a depressão de alto funcionamento, e destacou que “muitos de nós somos patologicamente produtivos”.

Um dos maiores desafios para reconhecer a própria depressão de alto funcionamento, segundo ela, é que algumas pessoas enfrentam barreiras psicológicas como a anedonia e a alexitimia — dificuldade de identificar e expressar emoções. Ambas podem matar a alegria e costumam passar despercebidas nas conversas sobre saúde mental, porque essas pessoas continuam funcionando no trabalho e em casa — ao menos na visão dos outros.

Joseph redescobriu a alegria na própria vida por meio de conexões fortes com a família e a comunidade. Ela afirma que sua alegria também vem de ajudar os outros a acessarem a deles. Mas isso levou tempo.

Ela não apenas conduziu estudos clínicos sobre depressão de alto funcionamento — ela própria viveu isso, mesmo enquanto acumulava conquistas profissionais.

“Essa era eu em 2020”, contou Joseph. “Eu usava uma máscara. Por fora parecia que tudo estava ótimo — eu comandava meu laboratório, tinha uma criança pequena, uma família perfeita, aparecia na TV. Mas estava lutando contra a anedonia”, ou seja, a incapacidade de sentir prazer.

Cinco passos para combater a depressão de alto funcionamento

Para combater a dificuldade em sentir alegria, pratique estes cinco passos:

Validação: Dê nome ao que você sente. Reconheça. Aceite. “Se não sabemos o que estamos sentindo, se não conseguimos nomear, ficamos confusos, inseguros. Isso gera ansiedade. Por isso, nomear o sentimento e aceitá-lo é essencial”, explicou Joseph.

Desabafo: Encontre alguém de confiança para conversar sobre o que está sentindo — com uma ressalva. Se não for um profissional de saúde mental, Joseph recomenda cuidado para não despejar traumas em amigos e familiares. “É importante checar antes. Peça consentimento emocional e pergunte: ‘É um bom momento para falar sobre isso?’”

Valores: O que te dá sentido e propósito na vida? “Pense nas coisas que são realmente valiosas… Eu costumava correr atrás de reconhecimento, conquistas — mas, no fim da vida, essas não são as coisas sobre as quais falaremos no leito de morte”, afirma.

Vitais: São os elementos básicos para estar vivo e bem: alimentação saudável, exercício regular e sono de qualidade. São fáceis de dizer, mas difíceis de manter para muitos de nós.

Visão: É difícil ter visão de futuro quando estamos cegos pelo próprio sofrimento. Mas, segundo a doutora da alegria, é importante planejar momentos de alegria e parar de revisitar o passado.

Porém, Joseph alerta: não tente aplicar todos esses passos de uma vez ou de forma acelerada. “Não seja funcional demais nesse processo”, afirma. “Isso não é mais um problema para resolver no trabalho. É a sua vida.”

E lembre-se: felicidade é algo externo e passageiro — como a euforia de comprar algo novo ou ganhar um prêmio.

Alegria é interna. “Ela está dentro de nós”, diz Joseph. “Não é preciso ensinar uma criança a sentir alegria. Nascemos com isso.”

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