No começo de outubro, o bitcoin atingia os US$ 126 mil, renovando sua cotação máxima. Agora, o criptoativo renova mínimas registradas meses atrás.
É normal que um ativo perca valor logo após bater um recorde com os investidores realizando lucros, ou seja, vendendo suas posições para embolsar os ganhos. A lógica é da lei da oferta e da demanda: quando o produto é vendido, aumenta sua circulação no mercado e, consequentemente, o preço é diluído.
Mas a queda observada no valor do criptoativo vai além do padrão típico de correção, segundo analistas ouvidos pela CNN Brasil.
No primeiro momento, ao atingir o novo recorde, Guilherme Prado, country manager da Bitget, aponta que o bitcoin enfrentou resistência para seguir sustentando alta.
“Havia um volume significativo de ordens de venda, e esse fator técnico se somou a um cenário macroeconômico desfavorável”, pontua Prado.
A perspectiva sobre os juros e o cenário geopolítico contiveram o apetite pelo risco, segundo Lucas Montanini, fundador e CEO da Fenynx Lending & Credit, que aponta para “liquidações em cascata que amplificaram o movimento”.
Olhando para o noticiário, Paula Zogbi, estrategista-chefe a Nomad, vê nos Estados Unidos um dos fatores que trouxe menor atratividade para o investimento no criptoativo.
O índice VIX, indicador de medo de Wall Street, subiu 15% nesta segunda-feira (17). Enquanto isso, o índice de medo e ganância da CNN Internacional operou em “medo extremo” e atingiu seu nível mais baixo desde o início de abril.
“O contexto que levou à forte queda recente passa por expectativas reduzidas para corte das taxas de juros pelo Federal Reserve, com o apagão de dados e comentários recentes dos membros do Fomc”, explica Zogbi.
Sem um projeto de financiamento aprovado, o governo norte-americano esteve paralisado pelas últimas semanas, com as agências que não prestam serviços urgentes fora de atividade.
O chamado shutdown impediu, por exemplo, o levantamento e divulgação de dados do mercado de trabalho dos EUA, essenciais na condução da política monetária do Fed.
Com a retomada do governo, a expectativa é de que o banco central norte-americano siga com maior cautela e com menor expectativa de cortes neste ano.
Os investidores estão precificando uma probabilidade de 45% de que o Fed corte as taxas em dezembro, de acordo com a ferramenta CME FedWatch. Essa probabilidade caiu em relação aos 94% registrados há um mês.
Zogbi complementa que o momento também foi marcado por “diminuição da liquidez e sentimentos de mercado frágeis, com baixa participação tanto de investidores institucionais quanto de varejo, em meio a discussões sobre valuations, levando a correções”. A incerteza e volatilidade foram similares às que atingiram o mercado de tecnologia, segundo a estrategista.
Prado, da Bitget, complementa apontando para as “preocupações sobre uma possível bolha de AI” entre os temores que pesaram sobre o bitcoin.
Para o curto prazo, Murilo Cortina, diretor de novos negócios QR Asset Management, afirma que “podemos enfrentar semanas de maior volatilidade, ainda mais considerando que dezembro costuma ser um mês menos líquido e, desta vez, com o mercado institucional exercendo influência direta sobre a direção dos preços”.
No mais, os analistas não veem a queda recente do bitcoin como uma quebra de ciclo.
“A base institucional continua forte, os fundamentos seguem intactos e, quando o cenário macro aliviar, o bitcoin tende a retomar sua trajetória de alta”, pontua Montanini.
“A demanda institucional continua crescente, em meio a um ambiente regulatório em evolução e novos produtos no radar. Isso pode levar a uma retomada, especialmente quando o caminho dos cortes de juros estiver melhor pavimentado”, conclui Zogbi.