A sexta-feira (5) foi de forte aversão a risco no mercado financeiro brasileiro. O dólar registrou a maior alta desde outubro (2,34%, a R$ 5,43), enquanto o Ibovespa afundou (-4,31%, aos 157.369 pontos) e teve o pior desempenho diário desde 2021.
Segundo analistas ouvidos pelo CNN Money, por trás da virada brusca na última sessão da semana estão as novidades no cenário eleitoral de 2026 com o anúncio de que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) sinalizou a escolha do filho Flávio (PL-SP) como candidato ao Planalto.
“[O Ibovespa] vem numa sequência de otimismo grande, qualquer mudança no cenário político […] acaba por ser um balde de água gelada”, diz João Daronco, analista da Suno Research.
Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad, destaca que o nome do senador traz incertezas ao processo de articulação da oposição na disputa ao Planalto em 2026, desencadeando um forte movimento de reajustes.
“Com o setor financeiro entre os mais penalizados e o prêmio de risco subindo nos ativos de risco locais, o Ibovespa sofreu forte correção. No câmbio, o dólar sobe refletindo a busca por proteção“, pontua.
Erich Decat, head de análise política da Warren Investimentos, destaca que o nome que vinha sendo mais cotado para assumir a herança política de Bolsonaro era o do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Os investidores veem o seu nome e o de outros governadores de centro-direita como os mais capacitados a unir o eleitorado de direita e centro, além de promover reformas voltadas a uma corrente econômica mais liberal.
Beto Saadia, diretor de investimentos da Nomos, aponta que propostas relacionadas ao atual governador de São Paulo, principalmente a agenda de reformas, tornavam o seu nome como alguém com maior chance de resolver questões apontadas pela Faria Lima para o país.
“Tarcísio tem, para o mercado financeiro, essa figura de que vai resolver isso, com maior probabilidade hoje do que o presidente atual. […] Quando é anunciado o Flávio Bolsonaro, a gente vê ele com chances irrisórias de ganhar as eleições, […] porque a rejeição a ele e ao clã Bolsonaro como um todo é muito alta. O Tarciso é um candidato que não tem uma rejeição alta e, ao mesmo tempo, ele captura grande parte dos eleitores do clã Bolsonaro.”
Para Rubens Cittadin Neto, especialista em renda variável da Manchester Investimentos, o movimento “parece ter sido muito mal visto pelo mercado porque divide a oposição ao Lula”.
“O mercado é apolítico, o que ele precifica é taxa de juros e o quanto isso afeta os ativos de risco. Hoje, o juro restritivo de 15% se deve ao fiscal mais expansionista. E a expectativa é a de que a oposição traga um fiscal com mais austeridade”, avalia Neto.
“Quando ocorre um movimento que divide a oposição, e enfraquece o lado político que pode trazer a austeridade fiscal, o mercado acaba precificando muito mal”, pontua.
Daronco indica que essa é uma “antecipação do cenário que a gente vai ver em 2026”, com mudanças engatilhando abalos para o mercado.
Ele defende que a notícia ainda é um “ruído” e que “ainda tem muita água para rolar”.
Decat ressalta interpretando que o movimento “se trata de um balão de ensaio: uma tentativa de recolocar Bolsonaro no centro do processo decisório da direita e forçar os dirigentes do Centrão a considerarem que o ‘jogo’ ainda não está resolvido”.
“A simples circulação dessa informação já cumpre o papel de tensionar o ambiente e reposicionar atores”, conclui o head de análise política da Warren Investimentos.