Petro nega vínculo de Maduro com narcotráfico; “Problema é a democracia”

Em meio às crescentes tensões entre os Estados Unidos e a Venezuela, o presidente colombiano, Gustavo Petro, disse à CNN nesta terça-feira (25) que seu país não identifica o ditador venezuelano, Nicolás Maduro, como um narcotraficante, como alegam os EUA.

Para Petro, o problema de Maduro é a “falta de democracia e diálogo” em sua nação.

“O problema de Maduro se chama democracia, eu o reconheço como tal, uma falta de democracia e de diálogo. Nenhuma investigação colombiana, independente do presidente e realizada em anos em que eu não era presidente, mostra qualquer relação entre o narcotráfico colombiano e Maduro”, disse o líder colombiano.

Em entrevista exclusiva à CNN em Bogotá, Petro falou sobre a situação na região um dia após a entrada em vigor da designação, pelos Estados Unidos, do chamado Cartel dos los Soles como organização terrorista internacional.

Segundo Washington, esse suposto grupo está envolvido com tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e corrupção de funcionários públicos, e sua liderança é atribuída a Maduro.

Caracas, por sua vez, rejeita tanto a existência do Cartel quanto as acusações contra Maduro.

“Negociação sobre petróleo”

Durante a entrevista, Petro insistiu que o problema de Maduro era a “falta de democracia”, acrescentando:

“Não estou dizendo que ele não seja um ditador, porque as ditaduras se enquadram no conceito de falta de democracia. Algumas mais do que outras, mas é assim que elas são.”

Ele também destacou que, em sua perspectiva, as tensões entre os EUA e a Venezuela se devem ao fato de Washington querer o petróleo venezuelano e, ao mesmo tempo, Maduro ignorar os apelos por democracia na Venezuela.

“O que está por trás disso é o mesmo que está por trás da guerra na Ucrânia: petróleo, petróleo (…) A Venezuela tem uma das maiores, ou a maior, reservas de petróleo do mundo até agora, petróleo pesado, preste atenção a essa definição, e na Ucrânia também existem reservas e, em geral, todas as guerras deste século tiveram a ver com petróleo”, disse Petro.

“A lógica de Maduro na Venezuela, não de toda a sociedade venezuelana, é permanecer no poder como está, com fundamentos ilegítimos, sim. Porque eu disse a Maduro: ‘É hora de mudança e é hora de eleições livres’. Eu já havia dito a Maduro: ‘Compartilhe o poder para construir confiança entre os dois lados e realizar eleições verdadeiramente livres’”, acrescentou o presidente colombiano.

Questionado sobre isso durante a entrevista desta terça-feira (25), Petro insistiu que o governo de Donald Trump não quer, de fato, eliminar os traficantes de drogas, mas sim que os EUA estão buscando “uma negociação sobre petróleo”.

“Acredito que a lógica de Trump seja a mesma. Ele não está pensando na democratização da Venezuela, muito menos no narcotráfico”, disse ele.

Oposição reivindica vitória

Maduro assumiu a presidência da Venezuela em 2013, após a morte do então presidente Hugo Chávez, e em 2014 foi proclamado vencedor de uma eleição controversa cujos resultados foram rejeitados pela oposição.

Segundo a oposição venezuelana, o verdadeiro vencedor da eleição foi o ex-embaixador Edmundo González Urrutia, que contou com o apoio da líder da oposição, María Corina Machado, ganhadora do Prêmio Nobel da Paz deste ano.

O líder chavista afirma que sua vitória em 2024 foi legal e alega que o objetivo das recentes manobras militares dos EUA no Caribe e no Pacífico não é combater o narcotráfico, como afirma Washington, mas sim desestabilizar seu governo.

Essas ações incluem o envio de navios de guerra e aeronaves para a região, além de ataques nos quais as forças americanas já destruíram 22 embarcações supostamente destinadas ao transporte de drogas.

“Trump não foi capaz de me ouvir”

Os desentendimentos entre os EUA e a Colômbia têm sido recorrentes ao longo do ano, sobre várias questões como migração ou tarifas, e se intensificaram em outubro, quando Trump acusou Petro de ser “um líder do narcotráfico que incentiva a produção em massa de drogas”.

O presidente colombiano, que está nos seus últimos nove meses de mandato e entregará o poder em agosto de 2026, já rejeitou as acusações.

Além disso, Petro afirmou que, ao contrário do que Trump alega, seu governo está combatendo o tráfico de drogas de forma “agressiva” e realizou apreensões históricas de drogas desde que ele assumiu o poder em 2022.

“Trump não conseguiu me ouvir”, disse o presidente, atribuindo a situação ao modo do líder americano de agir com “arrogância” e acreditar que ele é “um valentão, subversivo, terrorista, coisas desse tipo”.

A CNN entrou em contato com a Casa Branca e o governo venezuelano para comentar as declarações de Petro e aguarda uma resposta.

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