Um novo estudo científico reforça o que evidências anteriores já haviam mostrado: não existe ligação clara entre o uso de paracetamol durante a gravidez e o desenvolvimento de autismo ou Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). O trabalho, que consiste em uma revisão profunda de estudos, foi publicado nesta segunda-feira (10) no British Medical Journal (BMJ).
A publicação é feita após o presidente Donald Trump ter afirmado que existe uma relação entre paracetamol e autismo, sem apresentar evidências científicas. A informação chegou a ser desmentida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Ministério da Saúde brasileiro.
O paracetamol é o tratamento recomendado para dor e febre na gravidez e é considerado seguro por agências reguladoras em todo o mundo. No entanto, alguns estudos existentes que relacionam o medicamento ao autismo e ao TDAH variam em qualidade e não conseguem estimar com precisão os efeitos da exposição ao paracetamol antes do nascimento no neurodesenvolvimento dos bebês.
Por isso, os pesquisadores do atual estudo realizaram uma revisão abrangente de revisões sistemáticas para avaliar a qualidade e a validade geral das evidências existentes sobre o assunto, assim como a força da associação entre o uso de paracetamol durante a gravidez e os riscos de autismo ou TDAH nos bebês.
Eles identificaram nove revisões sistemáticas que incluíram um total de 40 estudos observacionais relatando o uso de paracetamol durante a gravidez e o risco de autismo, TDAH ou outros desfechos de neurodesenvolvimento em bebês expostos. Os pesquisadores utilizaram ferramentas reconhecidas para avaliar cuidadosamente cada revisão, considerando vieses e classificando a confiança das conclusões em alta, moderada, baixa ou criticamente baixa.
Todas as revisões relataram uma possível associação entre o uso de paracetamol pela mãe e o autismo ou TDAH, ou ambos, nos filhos. No entanto, sete das nove revisões recomendaram cautela na interpretação dos resultados devido ao potencial risco de viés e ao impacto de fatores não mensurados (fatores de confusão) nos estudos incluídos.
Além disso, a confiança geral nas conclusões das revisões foi baixa (duas revisões) a criticamente baixa (sete revisões).
“As evidências atuais são insuficientes para estabelecer uma ligação definitiva entre a exposição ao paracetamol durante a gestação e o autismo e o TDAH na infância. Estudos de alta qualidade que controlem fatores de confusão familiares e não mensurados podem ajudar a melhorar as evidências sobre o momento e a duração da exposição ao paracetamol, bem como sobre outros desfechos do neurodesenvolvimento infantil”, afirmam os autores do estudo em comunicado à imprensa.
Para os pesquisadores, os órgãos reguladores, médicos, mulheres grávidas, pais e pessoas dentro do Transtorno do Espectro Autista (TEA) ou que possuem TDAH, devem ser informadas sobre a baixa qualidade dos estudos existentes que apontam para uma suposta relação entre esses transtornos e o uso de paracetamol durante a gestação.