No noroeste de Alberta, no Canadá, foi encontrado um dos achados mais impressionantes da paleontologia moderna: uma vala comum onde milhares de dinossauros foram enterrados juntos após um evento repentino e devastador. Conhecido como Pipestone Creek bonebed, o sítio fossilífero se tornou peça-chave para desvendar como esses animais viviam e como morreram.
A área, apelidada por pesquisadores como “Rio da Morte”, não impressiona à primeira vista. Mas basta uma escavação superficial para que centenas de ossos surjam misturados: vértebras, costelas, mandíbulas, fragmentos de crânios e, ocasionalmente, ossos preservados quase intactos. Trata-se de um depósito tão denso que pesquisadores relatam encontrar mais de 300 ossos por metro quadrado em alguns trechos.
Uma descoberta que mudou o mapa da paleontologia no Canadá
O sítio ganhou atenção internacional a partir da década de 1980, mas havia sido notado anos antes por moradores locais. Sob camadas de sedimento da Formação Wapiti, estavam milhares de restos de Pachyrhinosaurus, um grande ceratopsídeo herbívoro com até seis metros de comprimento, primo distante do famoso Triceratops. Em vez de um grande chifre no nariz, essa espécie tinha uma protuberância óssea larga, um “calombo” robusto que provavelmente era usado para disputas ou exibições de força.
O que tornou o Pipestone Creek ainda mais fascinante aos olhos da ciência não foi apenas a quantidade de fósseis, mas o fato de que quase todos pertencem à mesma espécie.
O que essa vala comum revela sobre os dinossauros
As evidências reunidas pelas equipes de paleontologia indicam que os animais morreram em um evento catastrófico único. A hipótese mais aceita é a de que uma enchente repentina tenha atingido a manada enquanto ela migrava por uma planície fluvial.
Além de seu impacto científico, o Pipestone Creek bonebed oferece um raro vislumbre do comportamento desses gigantes. Como os fósseis preservam diferentes faixas etárias, os pesquisadores conseguem inferir:
- Vida em grandes manadas: o número de indivíduos indica que o Pachyrhinosaurus adotava comportamento gregário, semelhante ao de búfalos e gnus atuais.
- Estrutura social variada: a mistura de jovens e adultos sugere grupos familiares complexos, possivelmente com estratégias de proteção coletiva.
Essas informações permitem reconstruir padrões migratórios, hábitos alimentares, comportamentos reprodutivos e adaptações anatômicas.