As mudanças climáticas causam impactos que vão além dos danos ao meio ambiente. A saúde também pode ser afetada por eventos extremos relacionados ao clima e maior poluição do ar, principalmente a de crianças, idosos, mulheres grávidas e recém-nascidos, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS).
É nesse cenário que iniciativas para monitorar o impacto das mudanças climáticas na saúde têm surgido. É o caso da plataforma MAIS (Meio Ambiente e Impacto na Saúde), que será apresentada na COP30 pelo Einstein Hospital Israelita na quarta-feira (12). A conferência começou nesta segunda-feira (10) em Belém, no Pará.
A plataforma, que ainda está em fase de desenvolvimento pela organização, pretende cruzar indicadores climáticos, de saúde e socioeconômicos, além de conectar estas informações com pesquisas científicas já publicadas sobre o tema.
O objetivo da iniciativa é oferecer uma visão unificada (país, estado e municípios) dos impactos das mudanças climáticas na saúde, contribuindo futuramente para maior preparação e resiliência dos sistemas de saúde e para a tomada de decisões baseadas em dados.
“Sabemos que no Brasil faltam dados, ou, pelo menos, falta uma organização melhor dos dados que são colhidos, e isso dificulta o enfrentamento da crise climática”, afirma Sidney Klajner, presidente do Einstein, à CNN.
No país, há apenas 564 estações meteorológicas e 245 de qualidade do ar. Para comparação, os Estados Unidos possuem 900 e 245 estações para cada fim, respectivamente.
“Também existem poucos estudos científicos que olham para a relação entre clima e saúde no cenário brasileiro, e é preciso conhecer o impacto dessas mudanças climáticas na saúde para podermos, com mais assertividade, planejar as respostas, priorizá-las e proteger a população, principalmente a mais vulnerável”, completa.
A plataforma identificará lacunas de dados e conhecimento, orientando novas pesquisas e investimentos em monitoramento ambiental e de saúde.
Como vai funcionar a plataforma?
A MAIS vai agregar dados públicos ambientais, como ondas de calor, temperatura, umidade, poluição do ar, entre outros, e informações públicas sobre desfechos em saúde nos municípios brasileiros, como incidência de doenças, internações e óbitos. Em uma única interface interativa, a plataforma vai integrar as múltiplas bases de dados, com visualização de mais de 5.500 municípios brasileiros.
“O Brasil é um país continental. Existe uma grande diferença de município a município no que diz respeito à obtenção desses dados, mas, também, [relacionada a] comportamentos, visto que, por exemplo, populações acostumadas a viver em ambientes extremamente quentes terão um impacto à saúde quando estiverem expostas a uma onda de frio, contrário daquelas pessoas que estão acostumadas a uma temperatura mais fria”, explica Klajner.
Entre os principais conjuntos de dados, estão:
- Dados ambientais: temperatura, poluição, umidade, precipitação;
- Dados de saúde: internações, óbitos e notificações de doenças (principalmente respiratórias e cardiovasculares);
- Dados socioeconômicos: indicadores de vulnerabilidade, desigualdade e infraestrutura de saúde.
O foco é aproximar dados dispersos e a literatura científica para gerar uma visão integrada da realidade local, permitindo comparar indicadores entre município, estado e país; visualizar tendências temporais e espaciais da saúde da população, e identificar correlações concretas, como, por exemplo, aumento da mortalidade cardiovascular relacionada à elevação de temperatura.
“Ter posse desses indicadores integrados na plataforma é um passo importante e uma resposta para qual o tipo de necessidade de adaptação do sistema de saúde aos impactos climáticos por local, não apenas em média. E vamos entender qual é o comportamento da saúde da população frente a esses extremos, permitindo que o sistema de saúde se antecipe para haver um menor impacto”, afirma Klajner.
Quais são os impactos das mudanças climáticas na saúde?
Em estudo publicado em junho de 2024, especialistas da Organização Mundial da Saúde (OMS) reuniram evidências científicas que mostram que as mudanças climáticas podem levar a complicações de saúde importantes e potencialmente fatais, principalmente entre mulheres grávidas, recém-nascidos, crianças e idosos.
Os autores dos estudos observaram, por exemplo, que os nascimentos prematuros têm acontecido com maior incidência durante as ondas de calor, aumentando o risco de morte infantil. Segundo a OMS, a cada 1 °C adicional na temperatura mínima diária acima de 23,9 °C aumenta o risco de mortalidade infantil em até 22,4%.
Além disso, os pesquisadores ressaltam que o calor extremo está associado ao maior risco de ataque cardíaco e dificuldades respiratórias por pessoas mais velhas. Mudanças climáticas também estão relacionadas ao agravamento de doenças infecciosas, deficiências nutricionais e deterioração da saúde mental.