Mato Grosso paga o preço do isolamento político em Brasília

Entrevista de Emanuelzinho expõe falta de articulação, perda de protagonismo e decisões que custam caro ao estado no cenário nacional.

Por Vanessa França

A entrevista do deputado federal Emanuel Pinheiro Neto (MDB), o Emanuelzinho, no episódio que encerra a temporada 2025 do podcast Política de Primeira escancara um problema que Mato Grosso insiste em ignorar: a fragilidade da sua atuação política em Brasília. Mais do que um balanço de mandato, a fala do parlamentar soa como um alerta sobre o custo real da desarticulação e das disputas locais que pouco dialogam com o interesse estratégico do estado.

Na condição de vice-líder do governo Lula na Câmara, Emanuelzinho deixa claro que Mato Grosso poderia ter avançado muito mais no acesso a recursos federais e programas estruturantes. O entrave, segundo a leitura apresentada, não está na falta de orçamento ou de espaço político, mas na incapacidade de construir consensos mínimos e agir de forma coordenada. Enquanto outros estados ocupam espaço, Mato Grosso frequentemente assiste de fora.

Ao tratar dos bastidores do Congresso Nacional, o deputado reforça algo já perceptível: decisões são fortemente influenciadas por lobbies e interesses econômicos bem organizados. Nesse ambiente, quem não se articula perde. Soma-se a isso a dificuldade do governo federal em comunicar suas ações, o que abre terreno fértil para disputas de narrativas — cenário que tende a se agravar com a aproximação das eleições de 2026.

A entrevista ganha contornos ainda mais críticos quando entra em temas sensíveis ao estado. Na questão da homologação de terras indígenas, Emanuelzinho defende a revisão de processos em casos de comprovada boa-fé, alertando para o risco de insegurança jurídica. Trata-se de um ponto delicado, frequentemente explorado de forma ideológica, mas que exige responsabilidade técnica e política para evitar prejuízos econômicos e sociais duradouros.

Na segurança pública, especialmente nas regiões de fronteira, o diagnóstico é conhecido, mas permanece sem resposta efetiva: falta efetivo, investimento e estratégia. O problema não é novo, mas a insistência em tratá-lo como pauta secundária revela a ausência de prioridade política.

A situação da Santa Casa de Cuiabá surge como símbolo máximo dessa falha estrutural. Ao se posicionar contra o leilão do prédio, Emanuelzinho aponta para a necessidade de soluções políticas que vão além de decisões administrativas. O fechamento ou enfraquecimento da unidade representa impacto direto no atendimento, sobretudo de pacientes oncológicos, e evidencia como a falta de articulação entre entes e lideranças cobra seu preço da população.

No conjunto, a entrevista revela algo maior do que divergências partidárias: Mato Grosso não perde apenas recursos, perde relevância. A incapacidade de ocupar espaços estratégicos, somada a disputas locais estéreis e personalistas, enfraquece a voz do estado no debate nacional. A fala de Emanuelzinho expõe um problema estrutural que atravessa governos e mandatos — e que seguirá cobrando seu custo enquanto não for enfrentado com maturidade política.

 

Foto: Primeira Página

 

 


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