A líder da oposição venezuelana, María Corina Machado, não receberá o Prêmio Nobel da Paz pessoalmente na cerimônia de premiação desta quarta-feira (10) em Oslo, disse o diretor do Instituto Nobel da Noruega. Seu paradeiro atual é desconhecido.
Machado, de 58 anos, deveria receber a homenagem em uma cerimônia na Prefeitura de Oslo, na presença do rei Harald, da rainha Sonja e de líderes latino-americanos, incluindo o presidente argentino Javier Milei e o presidente equatoriano Daniel Noboa.
A opositora havia confirmado que receberia o prêmio pessoalmente, desafiando uma proibição de viagem de dez anos imposta pelas autoridades de seu país natal e após passar mais de um ano escondida.
“Infelizmente, ela não está na Noruega e não estará no palco da Prefeitura de Oslo às 13h, quando a cerimônia começar”, disse Kristian Berg Harpviken, diretor do instituto e secretário permanente da entidade que concede o prêmio, à emissora NRK.
Questionada sobre onde estava, Harpviken respondeu: “Não sei.”
Dedicado a Trump
A cerimônia ainda acontecerá. Quando um premiado não pode comparecer, um membro próximo da família geralmente o substitui para receber o prêmio e proferir a palestra Nobel.
Neste caso, será a filha de Machado, Ana Corina Sosa Machado, disse Harpviken.
Ao ganhar o prêmio em outubro, Machado dedicou-o em parte ao presidente dos EUA, Donald Trump, que afirmou ser ele próprio merecedor da honra.
O ditador Nicolás Maduro, no poder desde 2013, afirma que Trump está tentando derrubá-lo para obter acesso às vastas reservas de petróleo da Venezuela e que os cidadãos venezuelanos e as forças armadas resistirão a qualquer tentativa nesse sentido.
O Instituto Nobel não respondeu de imediato a um pedido de comentários adicionais.
Ataques militares dos EUA
Machado alinhou-se com os falcões próximos a Trump, que argumentam que Maduro tem ligações com gangues criminosas que representam uma ameaça direta à segurança nacional dos EUA, apesar das dúvidas levantadas pela comunidade de inteligência americana.
O governo Trump ordenou mais de 20 ataques militares nos últimos meses contra supostos navios de narcotráfico no Caribe e na costa do Pacífico da América Latina.
Organizações de direitos humanos, alguns democratas e vários países da América Latina condenaram os ataques como execuções extrajudiciais ilegais de civis.
Segundo fontes com conhecimento dos esforços e documentos de planejamento vistos pela Reuters, as forças armadas da Venezuela planejam organizar uma resistência no estilo guerrilha ou semear o caos em caso de um ataque aéreo ou terrestre dos EUA.
Prêmio de “validação internacional” do resultado da eleição
Em 2024, Machado foi impedida de concorrer à eleição presidencial, apesar de ter vencido as primárias da oposição com uma vitória esmagadora. Ela entrou na clandestinidade em agosto de 2024, depois que as autoridades ampliaram as prisões de figuras da oposição após a votação contestada.
A autoridade eleitoral e o Supremo Tribunal declararam Maduro o vencedor, mas observadores internacionais e a oposição afirmam que seu candidato venceu com folga, e a oposição publicou a apuração dos votos como prova de sua vitória.
Christopher Sabatini, pesquisador sênior para a América Latina na Chatham House, disse que o Prêmio Nobel deu “um forte sinal de validação internacional… (dos) resultados democráticos que haviam sido esquecidos”.
Ele disse à Reuters que isso também elevou Machado ao status de “uma pessoa em quem… a comunidade internacional e o mundo podem depositar suas esperanças”.
“Muitas vezes, os movimentos democráticos precisam de um rosto. Precisam de uma história.”