Maduro fica mais isolado após aliados perderem eleições em países vizinhos

O ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, parece ainda mais isolado esta semana após perder dois aliados regionais, Honduras e São Vicente e Granadinas, nas urnas, enquanto enfrenta o aumento da presença naval dos Estados Unidos no Caribe.

Em Honduras, os resultados preliminares das eleições de domingo (30) deixaram uma coisa clara: a candidata Rixi Moncada, protegida da presidente de esquerda, Xiomara Castro, foi colocada em um distante terceiro lugar na corrida presidencial, com poucas chances de vitória.

Embora os votos ainda estejam em contagem, a disputa se estreitou entre dois candidatos de direita que prometeram romper laços com o governo venezuelano: Salvador Nasralla e Nasry Asfura, que recebeu o apoio do presidente americano, Donald Trump, na semana passada.

Em São Vicente e Granadinas, o primeiro-ministro Ralph Gonsalves, um ferrenho apoiador de Maduro, perdeu a eleição na semana passada após quase 25 anos no poder. O país agora será liderado pelo político de centro-direita Godwin Friday, cujo partido conquistou 14 das 15 cadeiras no Parlamento.

 

Esses resultados, somados às mudanças políticas anteriores na América Latina, indicam o afastamento da região do movimento populista venezuelano conhecido como Chavismo.

O movimento foi fundado pelo presidente Hugo Chávez, que morreu no cargo em 2013, e continuado por Maduro.

Mesmo países governados por líderes de esquerda ou centro-esquerda —  como Brasil, Chile, México e Colômbia — têm limitado seus laços com a Venezuela de Maduro, especialmente após as contestadas eleições de 2024. O ditador foi declarado vencedor em sua tentativa de reeleição apesar de evidências em contrário.

Uma paisagem em transformação

Enquanto Caracas permaneceu praticamente na mesma posição após mais de 25 anos de Chavismo, os países da região têm oscilado entre líderes de esquerda e direita.

A Colômbia, que compartilha uma extensa fronteira terrestre e um problema transnacional de tráfico de drogas com a Venezuela, sempre teve uma relação turbulenta com seu vizinho. Sob a atual presidência de Gustavo Petro, essa parceria tem sido instável.

No início de sua administração, Petro restabeleceu laços diplomáticos com o regime venezuelano, mas agora parece ter se distanciado de seu líder.

Na semana passada, Petro disse à CNN que Maduro não tem ligações com o tráfico de drogas, como os Estados Unidos alegaram, embora tenha reconhecido que o problema do ditador é uma “falta de democracia e diálogo.”

O relacionamento da Venezuela com a Argentina se deteriorou ao longo do tempo. Durante os governos de esquerda de Néstor Kirchner (2003–2007) e sua esposa, Cristina Fernández de Kirchner (2007–2015), Caracas e Buenos Aires experimentaram um ressurgimento nas relações diplomáticas, com aumento do comércio e apoio mútuo.

Mas o diálogo foi praticamente interrompido após a eleição do empresário de centro-direita Mauricio Macri à presidência em 2015, e ainda mais após a eleição em 2023 de Javier Milei, um autoproclamado libertário que diz odiar o socialismo.

Nos últimos anos, outros países latino-americanos também se voltaram para a direita e se afastaram de Maduro, incluindo Equador, El Salvador e Bolívia.

As relações com o Brasil oscilaram entre amistosas e antagônicas. Durante os governos de esquerda de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) e Dilma Rousseff (2010-2016), os laços com Caracas floresceram, mas azedaram durante os governos de direita de Michel Temer e Jair Bolsonaro, um aliado de ultradireita de Trump.

As relações foram restauradas quando Lula da Silva retornou à presidência há três anos — embora não no mesmo nível.

Para que servem os aliados eternos?

Se a situação no Caribe escalar para um conflito maior, a Venezuela teria apenas um punhado de amigos remanescentes na região, e é improvável que algum deles fosse útil.

Cuba, uma antiga adversária dos Estados Unidos, tem sido uma aliada leal da Venezuela desde que Chávez chegou ao poder, e continua sendo até hoje.

O ministro das Relações Exteriores Bruno Rodríguez disse à CNN no final de setembro que Cuba “apoia total e completamente” o governo da Venezuela. Mas quando questionado se Cuba responderia a um ataque americano ao país, o chanceler evitou responder diretamente: “É um cenário hipotético”

“Quando você me informar que uma intervenção militar dos EUA ocorreu, eu avisarei.”

A ilha comunista, que atravessa uma de suas maiores crises econômicas da história recente, não está em condições de fornecer ajuda militar à Venezuela e, além das declarações de Rodríguez, Cuba tem se mantido à margem.

O outro aliado da Venezuela é a Nicarágua, uma pequena nação centro-americana, liderada por Daniel Ortega. O controverso presidente há muito é acusado de violações de direitos humanos, alegações que ele rejeita veementemente.

Ortega tem se mantido majoritariamente em silêncio durante este período tenso e não ofereceu ajuda a Caracas.

No final de setembro, no entanto, ele condenou a mobilização militar dos EUA no Caribe, alegando que Washington estava tentando “se apoderar do petróleo venezuelano ao fabricar uma história de que a cocaína vem daquele país do sul.”

Embora Maduro esteja cada vez mais isolado na América Latina e seus antigos aliados estejam preocupados com seus próprios problemas, os efeitos de um potencial conflito são muito difíceis de prever em uma região que há muito tempo mantém uma relação de amor e ódio com os Estados Unidos.

Com mais de uma dúzia de navios de guerra e 15 mil tropas na região como parte do que o Pentágono denominou “Operação Lança Sul”, Trump realizou uma reunião na Casa Branca na segunda-feira (1º) à noite sobre os próximos passos em relação à Venezuela, segundo fontes familiarizadas com o assunto informaram à CNN.

Maduro joga o jogo da espera

No domingo (30), Maduro respondeu à campanha de pressão dos EUA com uma mensagem familiar e desafiadora: “Foram sanções, ameaças, bloqueios, guerra econômica, e os venezuelanos não se acovardaram. Aqui, como dizem, todos calçaram suas botas e foram trabalhar”.

Desde que sucedeu Chávez como líder em 2013, Maduro se acostumou a viver um dia de cada vez, especialmente nas muitas crises cruciais que apenas o levaram a fortalecer seu poder, segundo relataram à CNN pessoas que lidaram diretamente com ele.

“Ele está se preparando para uma rodada de negociações, então não vai abrir mão de nenhuma carta na sua manga a menos que seja forçado”, declarou à CNN, no mês passado, um diplomata em Caracas, pedindo para falar anonimamente devido à natureza confidencial da conversa.

É uma tática forjada a partir de anos em piquetes, e significa que Maduro, um ex-líder sindical, está efetivamente apostando que a Casa Branca está blefando.

O ditador venezuelano está bastante consciente de que a opinião pública americana, e particularmente a base de apoiadores de Trump, tem muito pouco interesse em intervenções estrangeiras.

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