O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) viaja neste sábado (22) para a África do Sul para participar da Cúpula do G20 (bloco que reúne as 19 maiores economias do mundo, a União Europeia e a União Africana).
Há, segundo o Itamaraty, a possibilidade de que as tarifas impostas pelos Estados Unidos a vários países — inclusive o Brasil —, sejam discutidas no encontro.
No entanto, a conversa acontecerá sem a presença do país e do presidente americano, Donald Trump, que já anunciou que não enviará nenhum representante do governo para a reunião.
Com a ausência dos Estados Unidos, os representantes do Ministério das Relações Exteriores brasileiro dizem que há, de fato, a discussão para que não haja uma declaração do G20, como é feito tradicionalmente em todos os encontros.
O texto serve para que os países firmem compromissos entre si. Na declaração de 2024, os líderes mundiais abordaram desde as mudanças climáticas até guerras e taxação de super-ricos.
Mesmo com a pressão de que a declaração não saia oficialmente por conta da ausência dos EUA, a África do Sul defende que haja, sim, um documento, medida que é “firmemente” apoiada pelo governo brasileiro, de acordo com diplomatas do Itamaraty,.
As declarações referentes à viagem de Lula foram dadas em briefing organizado pelo Itamaraty para jornalistas.
Taxação dos super-ricos
Na ocasião, o embaixador Philip Fox-Drummond Gough, secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do ministério, acrescentou ainda que a questão da taxação dos super-ricos deve constar novamente no documento.
Segundo ele, há parágrafos sendo negociados sobre o tema, que também deve contar com um “evento paralelo” para que o assunto seja debatido.
Terras raras
Além da taxação dos super-ricos, a declaração também deve mencionar a exploração de minerais críticos, considerados estratégicos para o setor de energia.
O Brasil detém a segunda maior reserva de terras raras do mundo e, por isso, tem sofrido pressão por parte dos EUA para que o país possa explorá-las.
De acordo com o Itamaraty, o tópico é uma “prioridade” da África do Sul. A ideia, que vai na linha do que é defendido pelos países em desenvolvimento, é que os países que detêm os minerais críticos também possam se beneficiar, em vez de terem apenas as suas terras exploradas por países desenvolvidos.
A estratégia tem sido defendida pelo presidente Lula nos últimos meses. O petista já afirmou que o Brasil quer refinar minerais críticos em seu território, não os exportar como commodity.
Conforme mostrou a CNN Money, se o Brasil investir na produção dos chamados minerais críticos, a economia pode expandir até R$ 243 bilhões nos próximos 25 anos.
Tensão entre EUA e Venezuela
Questionado se a declaração abordaria a escalada de tensão entre os Estados Unidos e a Venezuela e as acusações por parte da Casa Branca referentes a narcoterrorismo no Caribe, o embaixador Fox-Drummond Gough negou que o tema seria abordado.
“A intenção agora é tentar não ser muito exaustivo nas questões políticas, justamente para evitar que isso atrapalhe na declaração”, pontuou.
Ele acrescentou que está em negociação uma proposta pela presidência sul-africana que “simplifica” as questões políticas, citando “um ou outro conflito atual”, mas sem tratar de detalhes.
De acordo com ele, o objetivo não é “contaminar” o debate econômico e financeiro com assuntos do tipo.
Viagem a Moçambique
Lula sai do Brasil no sábado (22) e participa das reuniões envolvendo o G20 no domingo (23). No mesmo dia, o chefe do Executivo também se encontra com os presidentes da Índia e da África do Sul e, depois, segue em viagem para Moçambique, onde irá a um jantar com o chefe de Estado do país.
Na segunda-feira (24), haverá um evento empresarial no hotel onde o presidente estará hospedado. Além disso, uma série de acordos de cooperação técnica envolvendo devem ser assinados.
Dentre os temas abordados, estão iniciativas referentes aos campos da saúde, da educação e da agricultura dos dois países.