Lucro no Brasil vem de lobby, não de inovação, diz Marcos Lisboa

O economista Marcos Lisboa, ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, alertou que o Brasil opera em um “equilíbrio” que estimula o atraso econômico, no qual o sucesso financeiro não é determinado pela eficiência ou pela inovação, mas sim por vantagens concedidas pelo governo.

Em participação no programa ‘WW Especial’, da CNN, o economista disse que o sistema brasileiro, assim como o de outros países da América Latina (citando México, Argentina e, “mais tragicamente, da Venezuela”), construiu uma “consistência (…) muito pervertida”. Neste cenário, segundo ele, a crença dominante é que o Estado existe para auxiliar e proteger as empresas.

“[Brasil] é um país onde você ganha dinheiro não porque é competitivo, está inovando, é eficiente, gera emprego de qualidade. Você ganha dinheiro porque conta com a mesada do governo de uma maneira ou de outra”, declarou o economista. “Isso gera o nosso atraso”.

A ideia de que o Estado deve dar subsídios e estimular investimentos para que a produtividade surja é refutada por Lisboa. “O estado está aqui para ajudar as empresas, para promovê-las, para dar subsídios. Como se dando subsídio, estimulando investimento, viesse a produtividade. Não vem!”, afirmou.

Ele detalha que essa abordagem, em que o Estado protege contra a concorrência externa e busca preservar empregos, resulta em “baixa produtividade, empregos de má qualidade e baixo crescimento econômico”.

Para Lisboa, o setor privado, ao entender esse “equilíbrio”, passa a priorizar o ganho de dinheiro por meio de lobby e pela obtenção de privilégios. O economista aponta ainda que tais práticas envolvem a busca por quebras de impostos, regimes tributários especiais ou tarifas especiais para proteger-se de competidores estrangeiros.

Defesa dos privilégios

Lisboa afirma que o problema não reside apenas no empresariado, mas na crença de que a própria sociedade sustenta e defende esse sistema de privilégios, a defesa de isenções e regimes especiais por diversos grupos.

“A sociedade acredita nesse equilíbrio. Há quem defenda não pagar IPVA [imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores] por ter uma prótese, ou quem defenda isenção de impostos para igrejas e clubes de futebol. Setores específicos, como a indústria química, acham razoável pagar menos imposto que os demais”, destacou.

Marcos Lisboa ainda deu como exemplo de distorção na economia brasileira a continuidade do Perse (Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos) mesmo após o fim da pandemia de Covid-19. O programa foi criado em 2021 com objetivo de proteger o setor de eventos em meio à pandemia.

“O Perse foi um erro. Acabou a crise, as empresas estão com lucro, mas elas vão com uma liminar na justiça e fala: ‘Veja bem, eu não quero pagar imposto, me dá uma liminar aqui para não pagar?'”, criticou e concluiu o economista. 

WW Especial

Apresentado por William Waack, o programa é exibido aos domingos, às 22h, em todas as plataformas da CNN Brasil.

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