IA pode ser aliada importante para zerar o desmatamento ilegal; saiba como

A IA (inteligência artificial) é um dos principais motores de transformação na atualidade. Algoritmo treinados à exaustão modificaram a forma de trabalho de inúmeras profissões e abriram um leque imenso de possibilidade nos mais variados ramos, da criação de imagens e textos a dúvidas básicas do dia-a-dia.

Foi pensando nisso que o MMA (Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima) e o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) atuaram juntos para desenvolver uma ferramenta de inteligência artificial que possa facilitar o trabalho daqueles que atuam para frear — e, futuramente, zerar — o desmatamento ilegal no Brasil. O resultado disso já está em vigor desde 2024 e turbinou o sistema de monitoramento via satélite, fazendo com que o sistema possa identificar pontos remotos com mais rapidez e, assim, otimizou o trabalho dos ficais do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis).

“O Ibama, ao detectar por imagem de satélite um polígono com desmatamento, aciona imediatamente um ato administrativo de responsabilização. Mas ele não precisa ir a campo com o fiscal entregar uma multa. O que ele faz é, no sistema eletrônico de monitoramento, embargar aquela área”, explicou em entrevista à CNN o secretário extraordinário de Controle do Desmatamento e Ordenamento Ambiental Territorial do MMA, André Lima.

“Ou seja, os bancos já ficam sabendo que aquela área é objeto de algum tipo de sanção, de punição ambiental. As cadeias de fornecimento e produtos agropecuários também ficam sabendo e, portanto, podem adotar os seus mecanismos de controle para não comprar produtos de áreas ilegalmente desmatadas.”

Como funciona essa IA na prática

Para chegar a esse resultado, o material usado como base foram os quase 40 anos de imagens registradas via satélite pelo Inpe. A diferença é que, com inteligência artificial, ficou mais fácil reunir todos os dados sobrepostos e criar análises inteligentes sobre a evolução do desmatamento ano a ano em cada área, é o que explica à CNN o coordenador do Programa BiomasBR do Inpe, Claudio Almeida.

“Eu pegava uma imagem do ano passado e uma imagem do mesmo dia desse ano, comparava essas duas imagens e identificava o que mudou nesse par de imagens. Com o uso desses algoritmos e com o aumento dessa capacidade computacional, agora pego todas as imagens desse período e eu vou analisar o comportamento daquele dado ao longo de todo período”, explica Almeida.

“Essa capacidade de você olhar mais dados em conjunto, te permite uma análise mais acurada e facilita seu trabalho de tomar uma decisão.”

Qual os próximos passos?

A ideia agora é ampliar a atuação da IA no MMA e fazer com que ela possa ajudar o Ibama, e a pasta como um todo, a prever as próximas áreas que serão alvo de desmatamento. Munidos desse mapeamento inteligente, os agentes poderão chegar antes da devastação e impedir que a derrubada ilegal de árvores aconteça.

André Lima defende a tecnologia e justifica seu uso dizendo que, atualmente, o Ibama não conta com um número de fiscais vasto o suficiente para que o instituto consiga cobrir todo o território nacional com a tecnologia que está disponível hoje.

“Eu não tenho um fiscal por município no Brasil. São 5.690 municípios e eu tenho 500 fiscais. Para onde eu vou mandar eles? Então, [com essa tecnologia] eu já começo a orientar as operações de campo a partir de dados produzidos por imagens de satélite e algum grau de predição de desmatamento”, adiantou Lima. “A previsão existe para a gente não acertar. Se a gente chegar mesmo no lugar onde ia ter o desmatamento, e a gente conseguir reverter, aquele desmatamento não vai acontecer.”

Segundo o secretário, a visão do MMA é automatizar todo o processo para que, no futuro, a fiscalização e a autuação daqueles que desmatam ilegalmente seja ainda mais rápidas com a ajuda da IA.

“O ideal é, quando a gente puder, daqui a alguns anos, simplesmente apertar um botão numa dada região e emitir automaticamente notificações, multas, embargos e suspensões de direitos. E, com todo o devido processo legal, a legítima defesa, instaurar processos administrativos automáticos direcionados por inteligência artificial com altíssimo grau de acurácia”, adiantou. “Agora isso a gente ainda vai ter que trabalhar um tempo para poder implementar dessa forma.”

IA não resolve tudo sozinha

O coordenador do Programa BiomasBR do Inpe, no entanto, defende a importância do papel do ser humano por trás da atuação da IA. Para Almeida, a tecnologia vem para complementar o trabalho dos fiscais, que são treinados para identificar construir análises que a máquina não conseguiria.

“Ela acelera o trabalho, mas não substitui o trabalho de um analista. A coisa mais importante é, ele vai acelerar esse processo de produção de dados, mas o controle final ainda depende de um analista, dado que essa informação é uma informação muito sensível”, explica.

Essa também é a opinião de Isabela da Cruz Bonatto, embaixadora do Movimento Circular, consultora do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina). À CNN, ela explicou que somente o humano é capaz de integrar os dados com a vivência dos grupos sociais que vivem na floresta, por exemplo.

“Embora a inteligência artificial seja muito importante para garantir agilidade no monitoramento, a gente ainda precisa muito do aspecto de inteligência humana, da nossa estratégia, do nosso pensamento crítico”, defende Isabela. “Nós temos muita dificuldade de melhorar a fiscalização e realmente diminuir números. Não adianta só a gente ter eles muito bem reportados, a inteligência artificial, ela não consegue agir in loco. A gente precisa, sim, da mão de obra humana.”

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