Com o agravamento da crise na Faixa de Gaza, diversos países anunciaram que irão reconhecer ou que têm planos para reconhecer o Estado da Palestina — uma medida que faz parte da solução de dois Estados.
O governo de Israel se posiciona contra a ideia e reforça que não deve parar as operações em Gaza até que o Hamas seja destruído.
Em 2025, com a volta de Donald Trump à Presidência dos Estados Unidos, o governo americano também tem criticado aliados que se mostraram a favor do reconhecimento da Palestina.
Saiba abaixo os principais pontos sobre a “solução de dois Estados”.
O que é a solução de dois Estados?
A solução de dois Estados para o conflito entre Israel e o Hamas, como o próprio nome indica, envolve garantir que haja um Estado israelense e um Estado palestino coexistindo pacificamente nos territórios que hoje incluem Israel, a Faixa de Gaza e a Cisjordânia ocupada.
Porém, os dois lados não conseguiram chegar a um acordo sobre várias questões fundamentais para a solução. Ambos reivindicam partes, senão toda, da cidade santa de Jerusalém como sua capital, por exemplo.
Quando surgiu a solução de dois Estados?
O território que atualmente abriga Israel, a Faixa de Gaza e a Cisjordânia esteve durante séculos sob o controle de impérios e grandes potências, desde os Macabeus e os Romanos aos Árabes e os Otomanos, e, por um breve período, até Napoleão.
No início do século XX, essa área fazia parte do Império Otomano, mas, após sua queda, depois da Primeira Guerra Mundial, permaneceu sob o controle do Império Britânico, já com as fronteiras atuais.
Durante esse período, a população judaica começou a crescer, em concordância com a Declaração de Balfour, de 1917, com a qual o Reino Unido apoiou o estabelecimento da Palestina como o lar do povo judeu.
Entretanto, as tensões eclodiram com os árabes, especialmente após o fim da Segunda Guerra Mundial.
Em 1947, a então recém-criada ONU aprovou um plano para dividir a Palestina em dois territórios, destinados a um Estado judeu e a um Estado árabe.
Esta é a origem da chamada “solução de Dois Estados”, que tinha como objetivo acabar com as tensões entre os dois povos.
O Estado de Israel foi criado em 1948, mesmo ano em que o Reino Unido deixou a região, mas não houve criação de um Estado palestino. Em vez disso, houve uma guerra iniciada por Egito, Jordânia, Síria, Líbano e Iraque.
Israel venceu essa guerra e consolidou a sua independência, enquanto a Faixa de Gaza ficou sob o controle do Egito, e a Cisjordânia sob o controle da Jordânia. Nenhum Estado árabe foi fundado nestes territórios.
A situação se tornou ainda mais complicada em 1967, quando Israel lançou um ataque surpresa contra o Egito, a Síria e a Jordânia — a chamada Guerra dos Seis Dias — e, após a sua vitória, ocupou Gaza e a Cisjordânia, deixando a população árabe sob o seu domínio.
A ONU, seguindo o plano de 1947, condenou a ocupação e pediu a saída dos israelenses dos dois territórios.
Avanço para criação de um Estado palestino
O avanço mais importante em direção à criação de um Estado palestino ocorreu em 1993, com a assinatura do primeiro de dois acordos entre Israel, a OLP (Organização para a Libertação da Palestina) e uma rede de grupos palestinos liderados por Yasser Arafat, que se opôs a Israel.
Os Acordos de Oslo, nomeados em homenagem à capital norueguesa, onde foram negociados, estabeleceram um roteiro claro para a criação de um Estado palestino.
Com ele, foi estabelecido o Governo Autônomo Palestino (ou Autoridade Nacional Palestina), uma entidade governamental limitada que começou a administrar os territórios da Faixa de Gaza (de onde Israel se retirou em 2005) e na Cisjordânia a partir de 1994, com eleições presidenciais e legislativas realizadas pela primeira vez em 1996.
O Governo Autônomo Palestino se tornou o primeiro governo palestino, mas sob controle israelense.
Para conseguir isso, foi criado um esquema de áreas dentro da Cisjordânia: na área A, composta pelas principais cidades palestinas, que ocupam 20% do território, o Governo Autônomo Palestino exerceu controle total.
Na área B, o Governo Autônomo Palestino controlava os assuntos civis e governamentais, mas Israel participava no controle da segurança, também em 20% do território.
Já na área C, a mais despovoada e extensa, com 60% do território, Israel manteve o controle total.
Estagnação na criação de um Estado palestino
Contudo, os Acordos de Oslo ficaram aquém das expectativas, e o caminho para a criação de um Estado independente estagnou à medida que a violência crescia, incluindo uma segunda intifada em 2000, e com a proliferação dos colonos israelenses nos territórios palestinos.
O então primeiro-ministro de Israel, Yitzhak Rabin, um dos signatários dos Acordos de Oslo, foi assassinado em 1995 por um judeu de extrema-direita.
Enquanto isso, a figura de Yasser Arafat, signatário que representa a OLP, começou a perder influência, e o seu partido, o Al Fatah, foi derrotado nas eleições de 2006 pelo Hamas, o grupo extremista islâmico que está agora em guerra com Israel.
Isso dividiu politicamente os territórios palestinos: Gaza, sob o controle do Hamas, e a Cisjordânia, parcialmente governada pelo Governo Autônomo Palestino, tornando o processo de criação de um Estado palestino ainda mais complexo.