O futuro ambiental do planeta está diretamente vinculado à qualidade de vida da população. Todas as doenças que acometem os seres humanos, ou pelo menos a grande maioria delas, têm alguma relação com o meio ambiente, hábitos de vida e o lugar em que a pessoa vive. O alerta foi feito pelo ambientalista e médico Gilberto Natalini no primeiro dia da Virada Sustentável 2025, um dos maiores festivais de sustentabilidade da América Latina.
Ex-secretário de Mudanças Climáticas da cidade de São Paulo, o especialista participou do painel “Respirar Agora: Como as Cidades Podem Liderar Soluções em Saúde Climática”, onde falou sobre a importância da criação de políticas públicas para enfrentar as mudanças críticas que aceleram a iminente crise ambiental no planeta.
Pesquisa recente divulgada pela The Lancet Planetary Health revela como a poluição contribui para o aumento do diagnósticos de doenças como Alzheimer e o desenvolvimento de outras doenças degenerativas. A inalação de alguns poluentes, de acordo com o estudo, aumenta o risco de demência entre 8% e 13%.
Fatores como a poluição do ar, da água, o uso de agrotóxicos, além de eventos como enchentes, estiagens ou queimadas, enumera Natalini, exercem inevitável influência sobre o surgimento de patologias variadas. “Entre todos os problemas que os poluentes causam na natureza, um que quase sempre esquecemos é o impacto na saúde das pessoas. Cerca de 90% das doenças dos meus pacientes estão associadas à qualidade do ar, à alimentação e às condições de vida
Mudanças que salvam vidas
A boa notícia, segundo o ambientalista, é que, apesar dos impactos à saúde, existem formas habituais de prevenção. “Por exemplo, na pandemia, uma forma que foi muito divulgada era a higiene das mãos, a não aglomeração e também o uso de máscara. Estou dando esse exemplo para dizer que, individualmente, nós temos várias maneiras de nos proteger”. Ele completa. “Evitar alimentos com muito agrotóxicos, determinados alimentos, ou tomar cuidado com a água que bebe, são maneiras individuais de se proteger das doenças advindas de mudanças climáticas e agravos ambientais.”
Ele reforça, no entanto, a importância das medidas coletivas e comportamentais, muito mais abrangentes e efetivas para a manutenção de uma sociedade saudável. “São esses hábitos que nos ajudam a prevenir e a combater doenças, seja doenças causadas por contaminação ambiental como as causadas por hábitos de vida errados, a exemplo do sedentarismo, a obesidade, e uma série de outras questões de comportamento.”
Racismo ambiental
Natalini ressaltou ainda as desigualdades sociais no país e os impactos do racismo ambiental sobre populações marginalizadas, lembrando que essas comunidades são as mais vulneráveis a problemas de saúde ligados a mosquitos, febres e outras doenças sanitaristas. “Como médico, acredito que nossa democracia precisa de uma injeção de políticas públicas voltadas à saúde e ao meio ambiente para ser salva”, enfatizou.
Diante dos desafios inerentes aos sinais dos tempos, Natalini enfatiza a importância do que ele chama de “processo de adaptação”, que pode ser constituído por um sistema de ações e políticas públicas que ajudem a preparar a humanidade para o cenário adverso. “Ações como tirar as pessoas de áreas de risco, criar mecanismos de proteção, implementar refrigeração nas escolas, nas unidades de saúde, nos hospitais, nas próprias residências, atendendo pessoas em dia de muito calor na rua. A exemplo do programa Altas Temperaturas, praticado em São Paulo, com aquelas tendas para distribuição de água. Temos que nos educar diante dessa nova realidade das novas agressões que as mudanças climáticas estão trazendo”.