A volta de Donald Trump à Casa Branca, o choque global da política tarifária dos Estados Unidos, o cessar-fogo no Oriente Médio, o novo capítulo da crise das estatais brasileiras e o afunilamento das disputas eleitorais para 2026 foram alguns dos pontos que mexeram com o humor dos investidores ao longo de 2025.
Os efeitos de cada acontecimentos refletem em diversas faces, e a cotação do dólar é um dos principais sinais para medir como as notícias são recebidas pelo mercado financeiro — no bom ou mau sentido.
E 2025 foi especialmente desafiador para o mercado de câmbio: em meses, o dólar saiu do patamar de R$ 6 — rondando as máximas históricas — para uma negociação ao redor de R$ 5,20.
O cenário é bastante diferente do observado no início do ano, quando a moeda norte-americana era negociada acima de R$ 6, na esteira da forte desvalorização do real nos últimos meses de 2024. O dólar encerrou 2024 com valorização de 27,3%.
Para Bruno Shahini, especialista em investimentos da Nomad, a história do dólar neste ano teve dois componentes fundamentais: global, principalmente com as surpresas políticas da administração de Donal Trump, e o Brasil, que segundo ele, ajudou a “fazer bastante preço” no dólar.
Shahini explica que as políticas de governo do presidente dos Estados Unidos iniciaram a desvalorização do dólar em 2025.
“Foram políticas que o mundo viu como unilateral e punitiva em relação aos países, não foram políticas negociadas bilateralmente, foram decisões dos Estados Unidos que afetaram todo o restante do mundo”, explica.
“Nesse sentido a gente teve uma perda de confiança nas instituições americanas, essa foi uma causa primária, que afetou o real também, mas o dólar ficou muito fraco globalmente”.
O analista de investimentos afirma que a grande parte do aumento do ouro esse ano, cerca de 60%, está em linha com a perda de confiança na institucionalidade do dólar e da política americana.
O professor de finanças, Alexandre Cabral, concorda que parte considerável desse movimento de desvalorização do dólar provocada pelo governo Trump.
“O tarifaço de Donald Trump jogou contra o preço do próprio dólar, que vem sofrendo uma desvalorização pelo mundo ao longo dos últimos meses”, explica o professor.
A desvalorização pode ser observada pela queda de quase 10% no ano do índice DXY, que analisa o dólar contra uma cesta de moedas fortes, como o iene e a libra esterlina.
“O DXY é um termômetro da força do dólar no exterior. Uma queda de 10% no DXY em um ano é bem relevante. Se a gente pegar o primeiro semestre, que teve uma queda de quase 10% de desvalorização, foi a pior desvalorização no semestre desde 1971 do dólar em relação a outras moedas”, analisa Shahini.
Juros x dólar
A política monetária dos bancos centrais do Brasil e dos Estados Unidos também influenciaram na cotação do dólar ao longo do ano. O diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos atrai capital.
Com juros mais baixos nos EUA, enquanto as taxas brasileiras estão em 15% ao ano, é mais favorável ao investidor estrangeiro pegar dinheiro “mais barato” lá fora e alocar por aqui em títulos que podem fazê-lo render mais. Esse é o chamado carry trade.
“Os investidores captam dinheiro na Suíça e no Japão para aplicar no Brasil, em renda fixa pública, para ganhar 14% 15% ao ano. A entrada de fluxo estrangeiro para a renda fixa também ajudou a valorização da nossa moeda”.
Nos anos anteriores, quando os Estados Unidos iniciaram um ciclo de aumento de juros, o fluxo de capital migrou para o país para usufruir das altas taxas. Em 2025, o caminho foi o inverso.
Shahini afirma que a política monetária americana é uma peça-chave para entender o comportamento do dólar em determinado período e direcionar para onde o fluxo de capital será deslocado.
“O capital financeiro global vai procurar onde tem as melhores taxas. O capital foi procurar onde tinham valuations atrativos, como o Ibovespa no Brasil. As bolsas da América Latina, da Europa e da Ásia também aproveitaram esse fluxo. Tivemos uma realocação geográfica que mexeu com a força do dólar.”
O que esperar para 2026?
O ano de 2026 tem um fator importante para ficar no radar dos investidores: eleições presidenciais.
Segundo os especialistas, o ano que vem tende a trazer muita volatilidade com o cenário eleitoral. Em dezembro, já foi possível observar um aumento de volatilidade no mercado acionário, com os investidores reagindo às pesquisas eleitorais e aos candidatos que estão entre as possibilidades.
“O ano que vem, independente de Trump, China ou de mundo, tende a ser um ano volátil por natureza. O dólar vai e vem. Historicamente, ano de eleição é ano de volatilidade”, alerta Cabral, professor de finanças.
A política monetária continua tendo um papel muito importante para o câmbio em 2026, a trajetória da Selic está no radar dos investidores. O mercado espera que o ciclo de queda dos juros comece em março, com expectativa para terminar 2026 em 12% ao ano. O nível de corte determinada a diferencial de juros, que afeta diretamente o dólar.
Cabral acredita que o carry trade de 2025 continue no próximo ano, mas o fluxo pode perder força porque os juros do mundo estão caindo e o investidores estão indo mais para a renda variável.
Para o Shahini, outro fator externo relevante é a troca do comando do banco central americano, com indicação do Trump para o novo presidente do Fed.
Segundo ele, o mercado global estará atento para qual será a política monetária adotada, se o banco central vai ter autonomia ou será cooptado pela figura do Trump.