Galípolo herdou problemas graves no Banco Central, afirma Haddad

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou nesta quinta-feira (18) que o presidente do BC (Banco Central), Gabriel Galípolo, assumiu o comando da instituição em um ambiente marcado por problemas relevantes herdados da gestão anterior.

Ao comentar o patamar elevado dos juros e a trajetória da política monetária, Haddad afirmou que a atual diretoria recebeu um cenário já tensionado, com expectativas desancoradas e perda de credibilidade acumulada.

“Nós recebemos a taxa de juros em 13,75%. Isso não aconteceu do nada. Já havia uma perda de credibilidade e uma desancoragem muito forte. O Galípolo herdou problemas graves, num ambiente em que a política monetária já estava muito tensionada”, disse em café com jornalistas no Ministério da Fazenda.

O ministro disse que a leitura de que o nível elevado dos juros decorre exclusivamente da política fiscal ignora o processo de formação de expectativas ao longo do tempo.

Haddad afirmou que parte relevante da perda de credibilidade que pressionou a política monetária decorreu do debate público em torno do projeto de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, que, segundo ele, gerou ruído e desancoragem das expectativas. 

O ministro disse que a forma como o tema foi tratado no debate público teve efeito direto sobre a curva de juros. 

“O debate público sobre o projeto do Imposto de Renda foi uma das coisas mais perniciosas que aconteceram neste governo. Os cálculos dos tais especialistas eram de R$ 100 bilhões, e a narrativa era de que não haveria compensação”, relembrou.

“Se isso fosse verdade, você ia desancorar tudo mesmo. E demorou algum tempo para as pessoas acreditarem que aquilo era viável. Quando começaram a acreditar, as coisas foram voltando à normalidade”, afirmou.

Segundo Haddad, a redução das taxas de juros, especialmente nos prazos mais longos, depende da reconstrução gradual da confiança na política monetária e da sinalização clara de convergência da inflação para a meta.

“Se você consegue fazer uma política monetária que ganha credibilidade e sinaliza que a inflação vai migrar, vai convergir para a meta, você vai ver essas taxas mais longas cederem. Esse processo não é imediato, ele é cumulativo”, pontuou

Política fazendária e coordenação com o Banco Central

Haddad afirmou que a atuação da Fazenda faz parte do esforço de coordenação da política econômica e que não há qualquer problema institucional em discutir política monetária com o Banco Central, desde que a autonomia da autoridade monetária seja preservada.

“Não tem nenhum problema a Fazenda discutir política econômica com o Banco Central. Isso é absolutamente normal. O que não pode acontecer é interferência, e isso não aconteceu”, defendeu.

O ministro também negou qualquer contato direto do presidente da República com o Banco Central para tratar de juros, mas defendeu a legitimidade do debate público.

“O presidente Luiz Inácio Lula da Silva não ligou para o Banco Central. Isso não aconteceu. Agora, discutir juros, discutir política monetária, discutir taxa de juros é normal numa democracia. O que não é normal é achar que isso é interferência”, disse.

Segundo Haddad, política monetária e política fazendária precisam caminhar de forma coordenada para melhorar o funcionamento da economia e a formação de expectativas.

“Política monetária e política econômica não podem caminhar em direções opostas. Quando há harmonia, quando há coordenação, a economia responde melhor. Credibilidade é um processo cumulativo”, frisou.

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