Expulso da família real: O que esperar do futuro do ex-príncipe Andrew

Até pouco dias atrás, Andrew era príncipe, duque de York, conde de Inverness e barão de Killyleagh, cavaleiro Grã-Cruz da Real Ordem Vitoriana, cavaleiro Real Companheiro da Nobilíssima Ordem da Jarreteira.

Agora, o filho da rainha Elizabeth II e irmão do rei Charles III, virou simplesmente Andrew Mountbatten Windsor.

Na noite de quinta-feira (6), o Palácio de Buckingham anunciou que o rei Charles III deu início ao processo para destituir o irmão dos títulos e honrarias reais e despejá-lo da propriedade real em Windsor.

A medida é o auge da desgraça de Andrew, resultado de seus laços com o predador sexual condenado Jeffrey Epstein. Na manhã seguinte, o nome de Andrew já havia sido removido do registro oficial da nobreza – um passo crucial na eliminação formal de seus títulos.

Embora a família real espere que esta medida possa encerrar este escândalo que se arrasta há anos, surgem questionamentos sobre onde Andrew, de 65 anos, irá morar, se poderá enfrentar mais problemas legais e se seu banimento apaziguará a opinião pública britânica. Aqui, respondemos algumas dessas questões.

Onde Andrew vai dormir?

Fontes reais informaram à CNN que Andrew receberá uma casa na propriedade privada do rei Charles III em Sandringham, Inglaterra, uma vasta propriedade com cerca de 150 imóveis.

É também onde a família real passa o Natal. Antes do anúncio de Charles, Andrew já havia sido informado de que não seria bem-vindo na residência campestre durante as festividades, segundo uma fonte real.

Andrew pode não se mudar para Sandringham até depois das festas de Natal, pois o processo de notificação, entrega do contrato de arrendamento e organização da mudança deve levar algum tempo.

Andrew vai receber algum dinheiro?

Sim, mas não sabemos quanto.

Após se afastar das funções públicas em consequência de sua desastrosa entrevista à BBC Newsnight em 2019, acredita-se que Andrew recebia uma mesada anual de aproximadamente £1 milhão (US$ 1,3 milhão) da falecida rainha Elizabeth II, segundo relatos da imprensa britânica.

De acordo com as reportagens, esses pagamentos continuaram inicialmente sob Charles, mas entende-se que o rei interrompeu essa mesada em algum momento.

Apesar de ter sido destituído do título de príncipe, a CNN apurou que Andrew ainda receberá uma renda de Charles.

As finanças de Andrew sempre foram um tanto misteriosas. Sua única fonte de renda declarada é a pensão que recebe por seu período na marinha entre 1979 e 2001, que somaria £20.000 (US$ 26.000) por ano.

Andrew ainda está na linha de sucessão?

Andrew pode ter perdido seus títulos, status e honrarias, mas ainda permanece em oitavo lugar na linha de sucessão ao trono britânico.

Existe um processo para removê-lo formalmente da linha de sucessão por meio de legislação, mas levaria tempo, pois requer o consentimento das nações da Commonwealth ao redor do mundo.

A última vez que este protocolo foi invocado foi em 1936, com a abdicação de Eduardo VIII.

O que acontecerá com a família do ex-príncipe?

Andrew e Sarah Ferguson se divorciaram em 1996, mas vivem juntos na Royal Lodge em Windsor desde 2008. Sua ex-esposa voltou a usar seu nome de solteira no início deste mês, quando Andrew renunciou ao uso de seus títulos reais, incluindo o de duque de York. Ela também está se mudando da Royal Lodge e fará seus próprios arranjos de moradia. Entende-se que ela não se juntará a Andrew quando ele se mudar para Sandringham.

Suas filhas, princesa Beatrice, de 37 anos, e princesa Eugenie, de 35, não são membros ativos da realeza e manterão seus títulos como filhas do filho de um soberano, de acordo com uma diretriz emitida pelo rei George V, em 1917.

Beatrice vive com seu marido em Cotswolds, cerca de 160 km de Londres, mas possui um apartamento no Palácio de St. James na capital. Eugenie e seu marido têm uma casa nos terrenos do palácio de Kensington, mas passam muito tempo no exterior.

A situação de moradia dos filhos não será afetada pelo exílio do pai.

Andrew poderia ser convocado pelo parlamento?

Os Liberal Democratas, um partido de oposição, têm recentemente solicitado que Andrew preste depoimento a um comitê parlamentar sobre suas finanças e possível aluguel pago para morar em Royal Lodge.

Até agora, o governo do primeiro-ministro Keir Starmer se recusou a conceder tempo aos membros do parlamento para debater as finanças de Andrew, apesar do clamor público por uma investigação adequada.

Esta semana, Geoffrey Clifton-Brown, um parlamentar conservador e presidente do Comitê de Contas Públicas, enviou uma carta aos comissários da Crown Estate solicitando mais informações sobre os acordos de arrendamento de Andrew para Royal Lodge.

“O comitê é responsável por garantir o melhor valor para o dinheiro dos contribuintes”, escreveu Clifton-Brown, e como tal “consideramos razoável buscar mais informações sobre o status e a justificativa do arrendamento de Royal Lodge.”

Andrew poderia enfrentar novos desafios legais?

Possivelmente. O Republic, um grupo ativista que busca abolir a monarquia, afirma estar buscando uma ação judicial privada contra Andrew “porque se o governo e a polícia não o responsabilizarem, nós o faremos.”

O grupo afirma ter instruído advogados a investigar e, se apropriado, iniciar uma ação penal privada sobre alegações de crimes sexuais e má conduta em cargo público.

Virginia Giuffre, uma das principais acusadoras de Epstein e seu círculo, alegou que Andrew teve relações sexuais com ela três vezes quando ela era adolescente. Em suas memórias recentes, publicadas postumamente, Giuffre escreveu que Andrew “acreditava que ter relações sexuais com ela era seu direito de nascença.”

Apesar de alegar nunca ter assumido nada, Andrew teria pago milhões de dólares a Giuffre em 2022 para resolver um processo civil que ela moveu contra ele. Ele repetidamente negou todas as alegações contra ele.

Giuffre morreu por suicídio em abril.

Isso será suficiente para o público britânico?

É difícil dizer. Andrew é profundamente impopular com o público britânico.

Em uma pesquisa publicada na quinta-feira (30) pelo YouGov, 91% dos britânicos manifestaram opinião negativa sobre Andrew. Apenas 4% expressaram visão positiva. Em contrapartida, os britânicos geralmente aprovam o príncipe William (76%) e Charles (62%), e mantêm, em geral, uma visão positiva da monarquia como instituição (56%).

Se a queda em desgraça de Andrew começou efetivamente após sua entrevista à BBC Newsnight em 2019, a família real tentou repetidamente encerrar o escândalo – primeiro com o afastamento de Andrew da vida pública, depois removendo seus títulos militares e patronatos, posteriormente cortando seu suporte financeiro, em seguida fazendo-o renunciar a alguns de seus títulos – e agora com o Rei o expulsando definitivamente do palácio como um pária.

Nenhuma das medidas conseguiu acalmar a indignação pública. Resta saber se desta vez será diferente.

Talvez o escândalo de Andrew tenha se prolongado por tanto tempo porque, para o público, suas “punições” não parecem proporcionais às alegações que ele enfrenta. Embora a perda de seus títulos e de sua residência preferida possa ser uma tragédia pessoal para Andrew, isso desperta pouca simpatia de um público que exige uma responsabilização adequada.

“Não importa se ele é o Príncipe Andrew ou Andrew Mountbatten Windsor – ainda estamos buscando uma ação judicial privada contra ele”, afirmou o Republic, grupo ativista.

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