Uma parceria de caça inédita foi documentada nas águas da Colúmbia Britânica, revelando que dois dos principais predadores oceânicos — as orcas residentes do norte e os golfinhos-de-laterais-brancas do Pacífico — estão cooperando para encontrar e se alimentar de salmão Chinook.
Dois dos principais predadores dos oceanos – as orcas residentes do norte e os golfinhos-de-laterais-brancas do Pacífico – unem forças para encontrar e se alimentar de salmão na região localizada no extremo oeste canadense.
É o que destaca estudo recente divulgado nesta semana pela revista Scientific Reports ao revelar uma parceria de caça inédita entre as duas espécies pela região.
O primeiro vídeo sobre a inusitada parceria, divulgado pela (UCB) Universidade da Colúmbia Britânica, sugere que as espécies desenvolveram uma relação de cooperação que pode trazer benefícios mútuos. Projeto também envolve pesquisadores da Universidade Dalhousie, do Instituto Leibniz e do Instituto Hakai.
Aliança inesperada
A Dra. Sarah Fortune, autora principal do estudo e professora assistente da Universidade Dalhousie, enfatiza a mudança na compreensão dessas interações.
“Já sabíamos há muito tempo que as orcas residentes interagiam com os golfinhos-de-laterais-brancas-do-Pacífico, mas vê-las mergulhar e caçar em sincronia com os golfinhos muda completamente a nossa compreensão do significado desses encontros,” disse a Dra. Fortune. “Nossas filmagens mostram que orcas e golfinhos podem estar cooperando para encontrar e compartilhar presas — algo nunca antes documentado nessa população”, explica.
Utilizando drones e etiquetas de bio-registro com ventosas (CATS Tags) fixadas temporariamente nas baleias, os pesquisadores capturaram imagens aéreas e subaquáticas impressionantes dessa caçada coordenada.
As observações revelaram que as duas espécies sincronizam seus movimentos e cercam suas presas em estreita proximidade. Além disso, as orcas foram vistas seguindo os golfinhos em profundidade, sugerindo que estão usando as pistas de ecolocalização dos golfinhos para localizar os grandes salmões Chinook — uma presa que os golfinhos, por si só, não conseguem capturar e engolir inteira.
Benefícios da cadeia alimentar
O Dr. Andrew Trites, autor principal e diretor da Unidade de Pesquisa de Mamíferos Marinhos da UBC, descreve a relação como uma “aliança estratégica”.
“Ao trabalharem em conjunto, as orcas conseguem conservar energia e usar os golfinhos como batedores equipados com radar para aumentar as suas chances de encontrar grandes salmões Chinook em profundidades maiores,” explicou o Dr. Trites. “Em troca, os golfinhos ganham proteção contra predadores e acesso a restos de um dos peixes mais valiosos do oceano. É uma situação vantajosa para todos os envolvidos.”
Os vídeos confirmaram que, após as orcas capturarem e despedaçarem o salmão para compartilhar com o seu grupo, os golfinhos rapidamente se apoderavam dos restos. Durante as observações, que ocorreram em agosto de 2020 na Ilha de Vancouver, os pesquisadores registraram 258 eventos de golfinhos nadando perto de orcas marcadas, e todas as orcas envolvidas exibiram comportamentos relacionados à caça e alimentação.
Crucialmente, as duas espécies não demonstraram sinais de comportamento agressivo ou de esquiva.
Tecnologia revela o inesperado
Esta foi a primeira vez que as etiquetas CATS, que coletam dados cinemáticos 3D, vídeo e acústica, foram usadas em baleias, permitindo aos pesquisadores registrar continuamente mergulhos, vocalizações e sons relacionados à alimentação.
As descobertas mostram a importância dessa inesperada parceria e o papel que ela pode desempenhar na adaptação dos predadores marinhos.“Ao combinar informações aéreas e subaquáticas, estamos descobrindo uma camada oculta de coordenação entre as espécies,” concluiu a Dra. Fortune. “É um exemplo impressionante de como as novas tecnologias estão nos ajudando a repensar a relação entre os principais predadores do oceano.”