O governo federal aguarda autorização da Justiça para transferir lideranças do Comando Vermelho a presídios de segurança máxima. O pedido foi feito pelo governador Cláudio Castro após a megaoperação policial desta terça-feira (28) que produziu cenas de guerra no Rio de Janeiro.
Criminosos usaram drones para lançar granadas numa tentativa de conter o avanço da megaoperação nos complexos da Penha e do Alemão, que contou com 2.500 policiais e terminou com 81 suspeitos presos, além de quase 100 fuzis apreendidos.
O objetivo era minar a capacidade de expansão da facção. Bandidos retaliaram bloqueando ruas e avenidas — mais de 120 linhas de ônibus do transporte municipal foram afetadas. A mais letal operação da história do Rio deixou 64 pessoas mortas, quatro eram policiais.
O Ministério Público Federal e a Defensoria Pública da União cobraram informações do governo do Rio. Querem saber se as autoridades seguiram a chamada “ADPF das Favelas” — uma decisão do Supremo Tribunal Federal que estabelece medidas prévias para a realização de operações nas comunidades, visando reduzir o número de mortes.
O governador Cláudio Castro (PL-RJ) disse que a ação foi planejada, defendeu a atuação dos policiais e cobrou mais apoio das Forças Armadas, que não participaram da operação desta quarta-feira. Segundo o governador, os militares alegam que precisam de uma autorização especial da Presidência da República — a chamada GLO, Garantia da Lei e da Ordem.
“Já tivemos três negativas. Entendemos a política de não ceder, dizendo que tem que ter GLO, que podia emprestar o blindado e agora não pode mais, porque o servidor é federal. E o presidente já falou que é contra a GLO. Cada dia temos uma nova razão para não colaborar, o Rio está sozinho nesta guerra”, concluiu o governador.
A fala foi o estopim para uma troca de acusações entre Cláudio Castro e ministros da gestão Lula em torno da Segurança Pública. Primeiro, o Ministério da Justiça soltou uma longa nota elencando as ações da Polícia Federal no Rio de Janeiro. Depois, o próprio ministro, Ricardo Lewandowski, foi escalado para rebater as críticas da falta de apoio ao estado.
“Não recebi nenhum pedido do governador do Rio de Janeiro enquanto ministro da Segurança Pública para esta operação, nem hoje nem ontem, absolutamente nada”, afirmou Lewandowski.
Em meio ao mal-estar, Castro ligou para a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann. Disse que não tinha intenção de criticar o governo. Gleisi defendeu nas redes sociais mais integração no combate ao crime e a aprovação da PEC da Segurança — outro ponto de divergência entre Brasília e o Rio.
“Eles se focam na questão da PEC e esquecem da política de fronteiras. O que a gente precisa é que haja um aumento neste trabalho, tanto de combate à lavagem de dinheiro quanto de fronteiras, para que a gente tire o poder financeiro e bélico dessas organizações criminosas”, afirmou o governador.
A megaoperação desta terça-feira na Penha e no Alemão acontece 15 anos após a ocupação que prometia livrar o Morro do Alemão do tráfico de drogas. Na época, forças de segurança hastearam uma bandeira do Brasil demonstrando a recuperação do território.
O governador do Rio pediu a transferência de dez lideranças presas no Rio, todas com ligação ao Comando Vermelho, detidas em Bangu, para presídios federais. O governo federal fez uma reunião de emergência durante a tarde desta terça-feira (28) para tratar da Megaoperação e montou uma comitiva para reunião de emergência no Rio de Janeiro pode desembarcar nesta quarta-feira na capital fluminense.