O presidente da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro), Rodrigo Bacellar (União), foi preso preventivamente pela PF (Polícia Federal) na última quarta-feira (3) no âmbito da Operação Unha e Carne, que investiga o vazamento de informações secretas ligadas à Operação Zargun.
A operação foi autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal). Entenda o caso em 5 pontos:
Quem é Rodrigo Bacellar?
Atualmente, Rodrigo Bacellar preside a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Em 2021, foi nomeado, pelo governador do Rio, Cláudio Castro (PL), para assumir a Secretaria de Estado de Governo do Rio de Janeiro, permanecendo no cargo até 2022, quando voltou às urnas, desta vez pelo PL, sendo novamente eleito com 97.822 votos.
Em 2025, ele cumpre seu segundo mandato na Assembleia Legislativa, sendo, em fevereiro deste ano, reconduzido à presidência da Casa com aprovação unânime.
Acusações contra ele
A operação investiga o vazamento de informações sigilosas da Operação Zargun — que havia prendido o deputado estadual Thiago Raimundo dos Santos Silva (MDB), conhecido como TH Joias, em setembro.
A PF aponta que Bacellar teria repassado dados reservados que teriam ajudado a obstruir a investigação. Há também indícios de que ele orientou o parlamentar a remover objetos da residência para ocultar provas.
Em nota, a defesa do deputado Bacellar negou que o parlamentar tenha atuado para obstruir investigações sobre facções criminosas ou vazado informações a alvos de operações policiais. Os advogados disseram ainda que ele não praticou qualquer ato que justificasse um pedido de prisão preventiva.
Medidas cautelares e apreensões
Além da prisão preventiva, a PF cumpriu mandados de busca e apreensão na residência do deputado e na sede da Alerj, inclusive na sala da presidência. No carro oficial de Bacellar, foram apreendidos R$ 90.840 em espécie e três celulares — que serão periciados.
A CNN Brasil apurou que Bacellar foi chamado nesta quarta-feira para uma reunião com o superintendente da PF no Rio, Fábio Galvão, e acabou preso em seguida.
Segundo os advogados, o deputado foi ouvido pela Polícia Federal na tarde de quarta-feira (3) e prestou todos os esclarecimentos solicitados. Já em relação ao dinheiro apreendido, Borragini afirmou que os valores não constam na decisão de Moraes.
Operação Zargun
Deflagrada no dia 3 de setembro, a Operação Zargun, também conduzida pela PF, investigou um esquema de corrupção envolvendo lideranças do CV (Comando Vermelho) no Complexo do Alemão com diversos agentes públicos, incluindo um delegado da PF, policiais militares, um ex-secretário municipal e estadual, além de um deputado estadual.
Segundo indiciamento, o ex-deputado teria cometido os seguintes crimes:
- integrar organização criminosa armada;
- contrabando;
- exploração clandestina de atividades de telecomunicações;
- evasão de divisas;
- tráfico de drogas interestadual
- e violação de sigilo profissional.
Além de TH Joias, também foram presos Alessandro Pitombeira Carrasena, que já ocupou cargos de secretário estadual e municipal do Rio, três policiais militares e um delegado federal, detido no Aeroporto Internacional do Galeão.
De acordo com a investigação, lideranças do Comando Vermelho no Complexo do Alemão mantinham contato direto com essas autoridades.
O que disse Moraes?
Na decisão que decretou a prisão de Bacellar, Alexandre de Moraes afirmou ver forte infiltração do Comando Vermelho na política do Rio de Janeiro.
“Conforme tive a oportunidade de me manifestar quanto à necessidade da repressão uniforme de crimes de repercussão interestadual e internacional, uma das principais características das organizações criminosas atuantes no estado do Rio de Janeiro, além do domínio territorial mediante uso da força, e da capacidade de corromper agentes públicos e políticos em escala”, escreveu o ministro.
“É a infiltração política que tais grupos alcançaram nos últimos anos, seja na esfera municipal, estadual e federal”, completou.
O magistrado ainda ressaltou, no despacho, a participação do deputado em uma organização criminosa.
De acordo com dados da PF, o vazamento de dados sigilosos teria atrapalhado o andamento da Operação Zargun.
Segundo o ministro, as informações da corporação são graves e indicam que “RODRIGO DA SILVA BACELLAR estaria atuando ativamente pela obstrução de investigações envolvendo facção criminosa e ações contra o crime organizado, inclusive com influência no Poder Executivo estadual, capazes de potencializar o risco de continuidade delitiva e de interferência indevida nas investigações da organização criminosa”.