SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar fechou com uma queda de 0,42%, cotado a R$ 5,565, nesta segunda-feira (21), com os investidores ainda atentos aos impactos das medidas do governo dos Estados Unidos contra o Brasil.
A queda segue em linha com a desvalorização da moeda norte-americana ante a maior parte das divisas, diante da cautela dos mercados sobre os desdobramentos da guerra comercial dos EUA com diversos países. Ao fim do pregão, o índice DXY, que mede o desempenho do dólar frente a outras seis moedas, caía 0,59%, a 97,88.
Já a Bolsa fechou com um ganho de 0,58%, a 134.166 pontos, influenciada pelo bom desempenho da Vale. Os papeis da empresa subiram 2,73% em razão do avanço dos futuros do minério de ferro, que atingiram as máximas em quase cinco meses.
Nesta sessão, o dólar recuperou as fortes perdas registradas na sexta-feira, quando encerrou com uma forte alta de 0,75%, cotado a R$ 5,588, maior nível desde 4 de junho. Já na máxima intradiária daquele dia, chegou a subir 0,93%, a R$ 5,598.
A recuperação também ocorreu com a Bolsa. Na semana passada, o índice acumulou perda de 2% em meio a preocupações em torno das relações tensas entre Brasil e Estados Unidos.
Os agentes seguiram monitorando as notícias que envolvem as decisões comerciais do governo do presidente norte-americano, Donald Trump, enquanto aguardam a agenda de indicadores, em semana que precede as reuniões do Fomc (Comitê Federal de Mercado Aberto) e do Copom (Comitê de Política Monetária).
Na perspectiva de Luiz Marques Júnior, especialista da Valor Investimentos, o dólar tem se mantido relativamente estável nos últimos dias, com pequenas oscilações diárias, mesmo com incertezas e os riscos globais sob o tarifaço de Trump.
“Esse comportamento é reflexo do fluxo de capital estrangeiro, que não só tem sustentado a alta da Bolsa, mas também contribuído para manter o dólar sob controle, apesar dos riscos fiscais e externos que continuam no radar”, afirmou.
Em entrevista à rádio CBN nesta manhã, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva insistirá na negociação comercial com os EUA, mas não descarta a possibilidade de não haver resposta dos EUA até 1º de agosto, data prevista para iniciar a sobretaxa de 50% sobre os produtos brasileiros.
Haddad afirmou ainda que o governo avalia implementar instrumentos de apoio a setores da economia impactados pela tarifa dos Estados Unidos, acrescentando que não necessariamente haverá impacto fiscal com a implementação dessas medidas.
“Pode ser que nós tenhamos que recorrer a instrumentos de apoio a setores que injustamente estão sendo afetados”, disse ele, sem detalhar as possíveis ações.
O tensão comercial entre os países se acirrou a partir da operação da PF (Polícia Federal) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. Investidores temem que isso possa levar Trump a adotar uma postura mais agressiva em relação às tarifas aplicadas ao Brasil.
Com a decisão do ministro do STF, Alexandre de Moraes, Bolsonaro terá de usar uma tornozeleira eletrônica, está proibido de usar as redes sociais e deve ficar recolhido em domicílio entre 19h e 6h de segunda a sexta e em tempo integral nos fins de semana e feriados.
Em resposta, os EUA restringiram vistos para autoridades do Judiciário brasileiro e seus familiares imediatos, citando novamente objeções aos processos legais contra o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Nesta segunda, Moraes proibiu a transmissão ou veiculação de áudios e vídeos de entrevistas do ex-presidente nas redes sociais.
A dificuldade do Brasil em negociar passa pelo fato de Trump estar exigindo como contrapartida o fim do julgamento de Bolsonaro no STF por tentativa de golpe de Estado. A questão é do campo jurídico, e não do comercial.
“Há promessa de novas sanções contra o Brasil, que seriam anunciadas ao longo da semana. A imprensa cogita aumento das tarifas para 100%, imposição da Lei Magnitsky para algumas autoridades, proibição de aviões brasileiros sobrevoarem os EUA e até mesmo o desligamento do GPS e descredenciamento do sistema Swift”, disse o diretor da consultoria Wagner Investimentos, José Faria Júnior.
“Não é possível saber o que acontecerá. Mas o cenário piorou muito e escala rapidamente. Observamos que alguns bancos estrangeiros retiraram recomendações de venda de dólar e aplicações em taxa prefixada”, afirmou.
Do lado norte-americano, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, afirmou nesta segunda que o governo está mais preocupado com a qualidade dos acordos comerciais do que com o tempo.
“Não vamos nos apressar para fechar acordos”, disse Bessent em uma entrevista à CNBC, referindo-se às negociações com os diversos países. Questionado se o prazo de 1º de agosto para os países fecharem um acordo comercial poderia ser prorrogado no caso de quem já está envolvido em negociações produtivas com Washington, Bessent afirmou que o presidente dos EUA, Donald Trump, é que decidirá sobre isso.
Enquanto isso, negociações comerciais estavam no radar, conforme diplomatas disseram que a União Europeia está explorando medidas “anti-coerção” abrangentes que permitirão que o bloco vise serviços dos EUA ou restrinja o acesso a licitações públicas na ausência de um acordo.
Trump ameaçou impor tarifas de 30% sobre produtos da Europa se nenhum acordo for assinado antes do prazo final de 1º de agosto.
“A questão, em última análise, se resume a saber se a UE pode engolir um resultado desequilibrado que é inclinado a favor dos EUA, ou se Trump aceitará alguma forma de contramedidas da UE sem aumentar ainda mais as tarifas”, disse Henry Cook, economista sênior do banco MUFG.
O republicano também voltou a ameaçar impor tarifas aos membros do Brics e disse que o grupo acabaria “muito rapidamente” se algum dia eles se formassem de modo significativo.
“Quando ouvi sobre esse grupo do Brics, seis países, basicamente, eu os ataquei com muita, muita força. E se algum dia eles realmente se formarem de modo significativo, isso acabará muito rapidamente”, disse Trump, sem mencionar os nomes dos países.
Já na frente dos dados, economistas reduziram pela oitava semana consecutiva a previsão da inflação para este ano e mantiveram a perspectiva para o PIB (Produto Interno Bruto), a taxa de juros e o dólar.
O boletim Focus divulgado nesta segunda-feira mostra que os analistas ouvidos pelo Banco Central estimam que o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) terminará 2025 a 5,1%, uma queda de 0,07 ponto percentual em relação ao levantamento da semana passada. É a maior redução desde 16 de junho, quando houve uma diminuição de 0,19 ponto percentual.
O boletim indica que os especialistas não acreditam que a sobretaxa de 50% que o governo de Donald Trump promete impor sobre os produtos brasileiros a partir de 1º de agosto terá muito impacto na economia nacional.
Além da queda da inflação, os analistas mantiveram a previsão para o PIB, Selic e dólar.