Diretor da Fast Shop confessa fraude em acordo com MP; leia trecho

O empresário Mário Otávio Gomes, diretor estatutário da Fast Shop, confessou sua participação em um esquema de fraude bilionária em créditos de ICMS. A confissão foi feita em 29 de agosto de 2025, durante audiência no Gedec (Grupo Especial de Delitos Econômicos), do Ministério Público de São Paulo.

A CNN teve acesso com exclusividade ao documento que mostra que Gomes assumiu que ter participado de práticas ligadas às compensações indevidas de ICMS, alvo central da chamada “operação Ícaro”.

Leia a seguir trecho da confissão:

“Trabalho na Fast Shop há 31 anos […] em 2016, quando assumi a área fiscal, assumi também a responsabilidade de fazer os pedidos de ressarcimento de ICMS.”

Em outro trecho, o diretor fala da participação do auditor fiscal da receita Artur Gomes da Silva Neto e também dos valores obtidos durante a fraude.

“Ao total, no período de 2021 a 2025, a Fast Shop obteve R$ 1.593.667.505,00 de ressarcimento de ICMS. Disso, R$ 553.389.364,00 era da cadeia que a Fast Shop tinha visibilidade; e R$ 1.040.278.140,00 era da cadeia anterior (“minério”), calculado por Artur. Eu não tinha qualquer ingerência sobre o destino do dinheiro depois de a Fast Shop haver sido creditada.”

A CNN obteve outro trecho, também do empresário Mário Otávio Gomes. Confira:

“Providenciava, junto à minha equipe, toda a documentação para o ressarcimento de ICMS na cadeia que a Fast Shop tinha visibilidade (isto é, da aquisição da mercadoria até a sua venda na loja). Daí, minha equipe inseria esses dados no sistema validador da Secretaria da Fazenda de São Paulo”, disse.

Neste trecho, o executivo cita o auditor fiscal Artur Gomes da Silva Neto está preso e foi citado pelas investigações como integrante do núcleo central do esquema.

“Às vezes, o Artur pedia para repassar esses mesmos dados para ele, por e-mail. Outras vezes, ele consultava esses dados diretamente no sistema, por meio de acesso com certificado digital da Fast Shop (que ele possuía). Artur, então, incluía os valores de “minério” e retransmitia o pedido de ressarcimento. Algum tempo após o início do trabalho do Artur, soube que ele era um funcionário da Secretaria da Fazenda. Em determinado momento, Artur me enviou uma homologação, que tinha a assinatura dele. Daí, eu liguei para ele e perguntei se ele tinha autorização para fazer a homologação. Ele disse que sim.”

Acordo milionário

Com a confissão, Gomes e os sócios da Fast Shop firmaram um acordo de não persecução penal no valor de R$ 100 milhões, homologado pela Justiça. O montante será dividido da seguinte forma:

  • O sócio Milton Kazuyuki Kakumoto pagará R$ 55 milhões;
  • O sócio Júlio Atsushi Kakumoto ficará responsável por R$ 30 milhões;
  • O diretor estatutário Mário Otávio Gomes pagará R$ 15 milhões.

Além do pagamento, a empresa terá de implementar um programa de compliance para prevenir novas irregularidades.

As investigações do MP apontam que o grupo obteve vantagens fiscais que somam cerca de R$ 1,5 bilhão em créditos de ICMS. O acordo, no entanto, não afeta a esfera tributária — os valores continuam sendo cobrados pela Secretaria da Fazenda.

Fiscais e intermediários suspeitos de lavagem de dinheiro seguem sendo investigados e podem ser denunciados. Outras empresas citadas na apuração, como a Ultrafarma, ainda não firmaram acordo semelhante.

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