O diretor da Nottus Meteorologia, Alexandre Nascimento, afirmou em entrevista à CNN Brasil que o ciclone que atingiu a cidade de São Paulo foi previsto com vários dias de antecedência. A declaração ocorre em um momento em que a Defesa Civil emitiu novo alerta para o estado de São Paulo, prevendo chuva persistente com risco de alagamento, raios, rajadas de vento e granizo para os próximos dias.
Segundo Nascimento, os indícios da formação do ciclone já eram perceptíveis na quinta e sexta-feira da semana anterior ao evento. “No sábado e domingo, a gente entrou aqui, inclusive falando na possibilidade desse ciclone que seria bastante intenso”, explicou o meteorologista, destacando que as informações foram divulgadas com três a quatro dias de antecedência.
O especialista ressaltou que não apenas sua empresa, mas também o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) e as defesas civis estaduais já estavam cientes do fenômeno. “Todo mundo já estava vendo e alertando sobre isso dois, três, quatro dias antes”, afirmou. Para Nascimento, o desafio está em “primeiro acreditar e, segundo, criar os processos para tentar antecipar ou melhorar essa condição”.
Recordes de ventos e mudanças climáticas
Durante a entrevista, Nascimento também chamou atenção para os recordes de ventos registrados na capital paulista nos últimos anos. Ele mencionou que em 2023 ficou uma semana sem energia em sua residência após ventos que atingiram 107 km/h, um recorde até então. No ano seguinte, nova marca foi estabelecida com ventos de 108 km/h. “Aquilo que a gente já ouvia e até hoje a gente ouve ainda, isso é tempo de recorrência, isso já aconteceu no passado, só daqui a 30 anos… não, um ano depois aconteceu”, alertou.
O meteorologista destacou que ventos entre 70 e 90 km/h já são suficientes para causar grandes transtornos, como quedas de árvores e problemas no fornecimento de energia. Ele citou que na terça-feira, mesmo com ventos de apenas 60 km/h, já havia registros de quedas de árvores e problemas pontuais com energia elétrica na cidade.
Alexandre Nascimento relacionou os eventos extremos às mudanças climáticas e à urbanização. “Na verdade, a gente está vivendo em um lugar que não era assim. Tirou a Mata Atlântica, plantou asfalto, plantou concreto”, afirmou. Ele alertou que, mesmo se houvesse uma redução drástica imediata na emissão de gases de efeito estufa, ainda existiria uma “inércia” dos poluentes já presentes na atmosfera, o que significa que os eventos climáticos extremos continuarão ocorrendo.