Condenado a 16 anos de prisão no processo que julgou a tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022, o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) apresentou dois atestados médicos na Câmara, mas continua ativo nas votações e nas redes sociais.
Segundo levantamento da CNN Brasil, o deputado fez 131 postagens no X (antigo Twitter) desde que começou seu afastamento, em 9 de setembro.
Além disso, votou, por exemplo, favorável ao projeto de lei que cria o marco de combate ao crime organizado, na última terça-feira (18).
Ramagem apresentou um primeiro atestado médico que recomendava seu afastamento da Câmara entre 9 de setembro e 8 de outubro. Um segundo documento estendeu o período, prevendo novo atestado de 13 de outubro a 12 de dezembro.
O parlamentar estaria nos Estados Unidos, mesmo estando com medida restritiva que o impede de viajar para o exterior. A PF (Polícia Federal) apura o deslocamento clandestino. A suspeita principal é de que o parlamentar tenha cruzado a fronteira a partir de um país vizinho ao Brasil.
A “suposta fuga” ocorre no mesmo momento em que se aproxima do fim a tramitação do processo e a execução das penas do deputado e dos demais réus, entre eles, o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Na semana passada, os réus do Núcleo 1 tiveram os recursos contra a condenação negados pela Primeira Turma do STF (Supremo Tribunal Federal). Com a decisão, as defesas devem protocolar nos próximos dias os últimos recursos para evitar o cumprimento imediato das condenações.
Deputados do PSOL pediram ao Supremo a prisão imediata de Ramagem. O relator do caso, ministro Alexandre de Moraes, deve enviar a solicitação à PGR (Procuradoria-Geral da República) para que opine sobre o pedido.
O líder do PT (Partido dos Trabalhadores) na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), também protocolou no STF um pedido para que seja decretada a prisão preventiva Ramagem e que seu nome seja incluído na Difusão Vermelho da Interpol. A inclusão faria com que ele passasse a ser procurado em 196 países, podendo ser preso em qualquer um deles.
Redes Sociais
Ao longo do período em que está de atestado, Ramagem tem usado, em especial, a rede social X (antigo Twitter).
Em nenhuma das 131 publicações que fez, Ramagem cita onde está. E no geral, faz críticas a Alexandre de Moraes, ao procurador-geral da República, Paulo Gonet, e ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O deputado também fez apelos pela anistia aos envolvidos nos atos do dia 8 de janeiro de 2023, defendeu o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e fez elogios ao governo de Donald Trump, sobretudo em ações tomadas pelos Estados Unidos contra a Venezuela.
Ramagem repostou ainda dezenas de mensagens dos filhos do ex-presidente Bolsonaro. E comentou a ação da polícia nos complexos do Alemão e da Penha, no Rio de Janeiro, que deixou mais de cem mortos.
Nas redes sociais, o parlamentar pouco falou da sua atuação no Congresso. Do dia nove de setembro, quando apresentou o primeiro atestado, até esta quinta-feira (20), fez referência a projetos em tramitação na Câmara apenas quatro vezes.
Duas delas sobre o marco do combate ao crime organizado, outras duas postagens sobre um projeto que endurece penas a traficantes em que é relator, e uma citação sobre a PEC da Segurança Pública.
A CNN Brasil tentou contato com o deputado e com sua assessoria. Mas até o momento não obteve retorno.