A penúltima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC (Banco Central), que começa nesta terça-feira (4) e termina na quarta (5), deve manter a taxa básica de juros inalterada em 15%. Agora, o mercado volta suas atenções para o comunicado oficial, em busca de sinais sobre quando poderá começar o ciclo de cortes da Selic.
Especialistas ouvidos pelo CNN Money apontam que o cenário da economia brasileira tem mostrado sinais de melhora. Pela sexta semana consecutiva, o Boletim Focus reduziu a projeção de inflação, atualmente em 4,55% para o fim de 2025.
As expectativas para horizontes mais longos também recuaram, embora ainda estejam acima da meta estabelecida de 3%, com margem de 1,5 ponto para cima ou para baixo.
Além disso, o ambiente externo está menos incerto, especialmente em relação à política econômica dos Estados Unidos.
Os dados mais recentes confirmam a desaceleração da economia brasileira, a perda de tração do crédito e um cenário de desinflação em andamento, sustentado pela valorização cambial, estabilidade das commodities, queda nos preços de alimentos e desaceleração dos custos de produção.
Apesar das melhoras, especialistas acreditam que o BC manterá a Selic em 15% até o fim do ano como estratégia diante das condições atuais, ainda marcadas por um mercado de trabalho resiliente, consumo elevado e pressão sobre os preços de serviços.
Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, ainda cita que a manutenção da política monetária em patamar elevado tem sido fundamental para consolidar o processo de transição da economia brasileira.
“Essa estratégia deve resultar, até o fim do ano, em uma desaceleração mais acentuada da atividade econômica, favorecendo uma maior ancoragem das expectativas e a consolidação da trajetória de desinflação — pilares essenciais para que o Banco Central possa, no futuro, avaliar uma redução sustentável dos juros”.
Na mesma direção, Felipe Salles, economista-chefe do C6 Bank, cita que as expectativas continuam desancoradas, justificando a continuidade de uma política monetária mais apertada.
“O Comitê deve justificar a manutenção da taxa de juros diante do cenário marcado por desancoragem das expectativas de inflação, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho, o que exige uma política monetária contracionista”, cita Felipe Salles, economista-chefe do C6 Bank.
Cortes no 1º trimestre de 2026, mas quando?
Na última reunião, em setembro, o BC sinalizou que a Selic a 15% é suficientemente restritiva e que esse é o nível terminal do atual ciclo, retirando a expressão “continuação da interrupção”. No entanto, manteve a indicação de que a taxa será mantida por um período “bastante prolongado”.
Para esta reunião, a expectativa do mercado é de uma postura cautelosa, com tom hawkish — mais duro — e sem sinalização clara de corte, dizem os especialistas.
“O sinal forte de início de corte não vem nesta quarta. O Banco Central vai manter a Selic e deve apenas sinalizar que acompanhará os dados recentes da economia. Se houver algo no comunicado, será dizendo que há ‘margem’, mas sem afirmar”, disse Gustavo Trotta, especialista da Valor Investimentos.
“Um sinal mais evidente, acredito que acontecerá na última reunião, em dezembro.”
O mercado projeta que os cortes comecem no primeiro trimestre de 2026, mas não há consenso sobre a data exata.
A Warren Investimentos estima o primeiro corte já em janeiro, com redução de 0,25 ponto. “Na nossa análise, o BC fará ajustes graduais de 25 a 50 pontos-base, encerrando 2026 com a Selic em 12,25%. Esse patamar ainda é considerado restritivo, o que demonstra que esperamos um BC cauteloso nesse processo de normalização”, afirma Luis Felipe Vital, estrategista-chefe da Warren.
Já Gustavo Sung, da Suno Research, prevê o início dos cortes em março, com redução de 0,5 ponto percentual, encerrando o ano em 12,50%.
Trotta, da Valor, estima o primeiro corte entre março e abril, na faixa de 0,25 a 0,50 ponto. “Prevemos entre quatro e seis cortes, acumulando entre 2,5 pontos e 3 pontos, em linha com o Focus, que projeta Selic entre 12% e 12,5% em 2026.”
Fatores de risco
Apesar da expectativa de cortes, especialistas apontam riscos que podem alterar esse cenário. No campo externo, o desenrolar da guerra comercial, os cortes de juros nos EUA e um eventual aumento nos preços das commodities são pontos de atenção.
“Essas questões podem afetar a inflação na ponta. Se houver algum choque inesperado que eleve os preços das commodities e pressione o câmbio, o processo de desinflação no Brasil pode ser comprometido”, alerta Sung.
No cenário interno, o ano eleitoral é outro fator de risco. “Ano eleitoral, aumento de gastos e possíveis mudanças nas regras fiscais podem gerar pressão inflacionária. Isso pode ser um desafio para o BC”, conclui.
Para 2026, a expectativa é de um ano marcado por maior volatilidade. “Teremos cortes de juros em países desenvolvidos, política fiscal pressionada e gastos acima do previsto. Tudo isso impacta diretamente a política monetária. Será um ano em que diversos indicadores precisarão ser monitorados de perto”, afirma Trotta.