O cenário político e econômico global atual representa um obstáculo significativo para o sucesso da COP30, segundo análise de Eduardo Viola, professor de relações internacionais da FGV e do IEA-USP no WW.
Segundo Viola, desde 2022, com a invasão da Ucrânia pela Rússia, as condições têm se mostrado progressivamente desfavoráveis para as conferências sobre mudanças climáticas, após um período de avanços marcado pelo Acordo de Paris.
A União Europeia, tradicionalmente líder no regime climático desde a conferência do Rio, tem redirecionado seus esforços e recursos para questões de defesa, em resposta às tensões geopolíticas.
“[…] a União Europeia foi sempre líder do regime climático, desde a conferência de Rio. A partir da invasão russa à Ucrânia, a preocupação principal da Europa é a defesa frente à ameaça russa”, afirmou Viola.
Embora mantenha um discurso progressista em relação ao clima, a implementação efetiva de medidas tem estagnado ou retrocedido.
Crise no financiamento climático
O financiamento climático para países de renda baixa e média-baixa enfrenta sérias dificuldades.
Os Estados Unidos se mantêm distantes dessa questão, enquanto a União Europeia, que historicamente era a maior contribuinte, encontra-se limitada devido à realocação de recursos para defesa.
A China emerge como um ator ambivalente neste cenário. Após anos como grande emissor de carbono, o país asiático tem se transformado em importante produtor e exportador de energias renováveis, veículos elétricos e energia nuclear.
No entanto, sua matriz elétrica ainda depende significativamente de combustíveis fósseis, com cerca de 80% da produção baseada em carbono.
Esta transformação da China ilustra uma tendência contraditória: enquanto avança na produção de tecnologias benéficas para o clima, o país ainda mantém níveis elevados de emissões de carbono. Este cenário complexo adiciona mais um elemento de incerteza para as negociações climáticas globais.
“Era um predador do clima, eles cresceram economicamente e poluíram no mundo em uma escala gigantesca, agora avançam em outro plano e está se transformando no grande produtor de bens positivos para o clima, mas é um processo, ainda produz muito carbono”, afirma o professor.