Conheça Eduardo Alves da Costa, autor do poema “No Caminho, com Maiakóvski”

Eduardo Alves da Costa, um dos maiores poetas brasileiros da atualidade, vive em um cantinho quase escondido na praia de Picinguaba, em Ubatuba, litoral norte de São Paulo. Aos 89 anos, o escritor acumula uma carreira de mais de sete décadas dedicadas à literatura poética, com mais de 20 livros publicados e uma história fascinante que inclui a autoria de um dos poemas mais emblemáticos do período da ditadura militar no Brasil.

Nascido no Rio de Janeiro, Eduardo veio ainda bebê para São Paulo, onde desenvolveu sua vocação literária desde muito jovem. “Com 14 anos eu pensei em ser poeta. Escrevi um largo poema chamado ‘A Dança dos Esqueletos’, que era uma ironia total e infelizmente eu perdi essa obra-prima”, conta ele com bom humor. Sobre sua vocação, Eduardo reflete: “Se diz que o poeta nasce, não se faz. Você nasce poeta. Eu acredito, realmente”.

O poema atribuído a outro autor

Entre suas obras, destaca-se “No Caminho, com Maiakóvski”, um poema que ganhou notoriedade durante o regime militar brasileiro, mas que por anos teve sua autoria erroneamente atribuída ao poeta russo Vladimir Maiakóvski.

A confusão começou quando um escritor colocou o poema como epígrafe em seu livro, acreditando que Eduardo havia apenas traduzido os versos. “Um escritor que até me conhecia colocou como epígrafe do livro dele esse trecho, e o amigo disse, olha, o Eduardo traduziu um poema do Maiakóvski. Aí ele colocou Maiakóvski, claro”, explica o poeta.

O equívoco só começou a ser esclarecido após uma cena da novela “Mulheres Apaixonadas”, quando o autor Manuel Carlos decidiu incluir o poema em um diálogo interpretado pela atriz Christiane Torloni. “Choveram telefonemas dizendo que ele era um ignorante, que como não conhecia o poema mais representativo de Maiakóvski, atribuíram um poema desses a um poeta de Niterói”, relembra Eduardo.

Um trecho específico do poema se tornou emblemático como símbolo de resistência política: “Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim e não dizemos nada. Na segunda noite já não se escondem, pisam as flores, matam nosso cão e não dizemos nada. Até que um dia o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz e conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta e já não podemos dizer nada”.

Nova obra com mais de 400 páginas

Atualmente, Eduardo Alves da Costa acaba de lançar “Eudiceia”, um poema épico com mais de 400 páginas, inspirado na Odisseia de Homero. “É o Homero que veio me visitar porque quando eu era jovem que eu lia Eudiceia, eu disse, puxa, como eu gostaria de tê-lo conhecido. E ele falou, então eu vim, eu vim agora para que você me conheça”, conta sobre a inspiração para a nova obra.

Além da poesia, Eduardo também se dedica à pintura, atividade que considera complementar à escrita. “É uma arte muito difícil, mas depois que você aprende, é muito agradável. Você pega a tela, coloca, tira, tem que fazer força. Você fica em pé a maior parte do tempo, você vai vendo os materiais”, explica sobre seu processo criativo nas artes visuais.

Para Eduardo Alves da Costa, a verdadeira essência da existência humana está nas relações interpessoais: “A grande aventura do homem hoje não é ir à lua. A grande aventura é o outro. É você conhecer o outro. É você se dedicar ao outro. Essa que é a grande aventura”.

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