China treina “Marinha paralela” para tomar Taiwan, aponta análise

Em 3 de setembro, um grande desfile militar ocorreu no coração da capital da China, Pequim, marcando o 80º aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial.

O arsenal de armas exibido durante o desfile do Exército de Libertação Popular incluía veículos de assalto anfíbio, que seriam cruciais para uma eventual tomada de Taiwan.

Em seu discurso principal no desfile, o presidente chinês, Xi Jinping, não mencionou Taiwan, mas obter o controle da ilha é um objetivo primordial para ele e o Partido Comunista.

A China considera Taiwan, que é governada democraticamente, como parte de seu território e nunca renunciou ao uso da força para assumir o controle da ilha. O governo de Taiwan rejeita as reivindicações da China, afirmando que somente o povo da ilha pode decidir seu futuro.

A agência de notícias Reuters monitorou a “frota paralela” de navios civis da China que participaram dos exercícios militares anuais deste ano para ensaiar uma invasão de Taiwan.

Os exercícios, que começaram em meados de julho, revelaram que os militares chineses estão testando uma nova estratégia com essas embarcações.

Ao longo do verão, a Reuters monitorou a movimentação de mais de 100 embarcações civis que participaram de exercícios ou pertencem a operadores que frequentemente participam de exercícios militares.

Imagens de satélite obtidas pela agência mostraram uma operação de desembarque e embarcações praticando técnicas de desembarque em uma praia perto da cidade de Jiesheng, na província de Guangdong, próxima ao que parece ser uma base militar chinesa.

Imagens de satélite mostram praia e navios • Planet Labs PBC/Reuters
Imagens de satélite mostram praia e navios • Planet Labs PBC/Reuters

O uso dessas embarcações civis poderia aumentar significativamente o tamanho das forças mobilizadas para uma invasão e permitiria que a China realizasse ataques em um número maior de locais em Taiwan, de acordo com especialistas taiwaneses e americanos.

O almirante Lee Hsi-min, ex-chefe das forças armadas de Taiwan e um dos principais especialistas da ilha em defesa e segurança, afirmou que as imagens de satélite dos exercícios de agosto revelaram que o Exército de Libertação Popular agora está testando embarcações menores do que as usadas em exercícios anteriores.

Barcos civis poderiam fornecer apoio logístico durante uma invasão.

Os navios poderiam “transportar mercadorias, feijão, munição, bandagens, combustível, coisas muito difíceis de mover, mas que precisam ser transportadas a granel”, explicou Wallace Gregson, tenente-general aposentado do Corpo de Fuzileiros Navais dos EUA.

Taiwan no centro de disputa entre China e EUA

O desejo de controlar Taiwan está no centro da disputa entre China e Estados Unidos pela hegemonia na região da Ásia-Pacífico.

De pequenos atóis pouco povoados no Oceano Pacífico aos arquipélagos estratégicos do Japão e das Filipinas, os dois países estão se preparando para um confronto potencialmente decisivo.

Uma invasão bem-sucedida poderia fazer com que o Partido Comunista da China ganhe prestígio interno. Também poderia significar que o país passaria os EUA como potência dominante na Ásia.

No entanto, também poderia levar a um desastre, com a China em guerra com os Estados Unidos e seus principais aliados, um conflito que quase certamente abalaria a economia global.

Fracassos militares também poderiam ameaçar o poder do Partido Comunista.

“A questão de Taiwan é puramente um assunto interno da China, e como resolvê-la é uma questão que cabe inteiramente ao povo chinês”, disse o Ministério das Relações Exteriores de Pequim, em resposta a perguntas.

Imagens de satélite mostram navios transportando veículos • Planet Labs PBC/Reuters
Imagens de satélite mostram navios transportando veículos • Planet Labs PBC/Reuters

A pasta adicionou que a China está disposta “a buscar a perspectiva de reunificação pacífica, mas jamais permitiremos que alguém ou qualquer força separe Taiwan da China por qualquer meio que seja”.

Já o Ministério da Defesa de Taiwan remeteu a Reuters a comentários feitos em setembro pelo ministro da Defesa, Wellington Koo, que afirmou que a ilha mantém “supervisão contínua” do uso de embarcações de desembarque pela China.

“Monitoramos de perto como elas apoiam operações militares”, afirmou Koo, acrescentando que Taiwan “desenvolveu planos de contingência relevantes”.

O resultado de um ataque chinês poderia depender fortemente da resposta dos EUA, o aliado mais importante da ilha. Por décadas, a Casa Branca se recusou a dizer como reagiria a uma invasão, uma manobra política apelidada de “ambiguidade estratégica”.

Porém, o ex-presidente dos EUA Joe Biden pareceu romper com essa prática, confirmando em diversas ocasiões durante seu mandato que as forças americanas defenderiam Taiwan caso fosse atacada.

Questionado sobre a posição do presidente Donald Trump em relação a Taiwan, um porta-voz da Casa Branca afirmou: “A política dos Estados Unidos é manter a capacidade defensiva de Taiwan em relação à da China”.

“E, como o presidente já disse, o presidente Xi Jinping não atacará Taiwan enquanto o presidente Trump estiver no cargo”, acrescentou.

O Ministério da Defesa chinês não respondeu às perguntas para esta reportagem.

FONTE

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *