O chef paraense Saulo Jennings, primeiro Embaixador Gastronômico da ONU Turismo no mundo, falou à CNN sobre a recente polêmica sobre a relação entre sustentabilidade e cardápios veganos na Amazônia. O assunto ganhou repercussão depois que ele se negou a preparar um prato para o príncipe William, que está no Brasil para a COP30.
Em entrevista ao CNN Novo Dia, Jennings explicou os motivos que o levaram a tomar essa decisão e disse que o debate precisa ir além da dicotomia entre opções vegetarianas e não vegetarianas, focando no equilíbrio entre cultura local e preservação ambiental.
“O tema não é sobre se a Amazônia precisa ser vegetariana ou vegana para ser sustentável. O tema é muito maior, vai além disso. Eu acho que mexe com cultura nacional, mexe com cultura de um povo, mexe sobre saber o que esse povo precisa naquele momento para ter sustentabilidade.”
Jennings enfatizou que a sustentabilidade na região amazônica envolve um complexo equilíbrio entre fauna, flora, rios e comunidades locais. “A Amazônia em alguns momentos pode ser vegetariana, em alguns momentos pode ser vegana, em alguns momentos pode ser carnívora, mas o importante é ter o equilíbrio entre todos os elementos”, destacou.
“Então não faz parte do meu propósito hoje dizer que para a gente manter a sustentabilidade, a gente tem que fazer pratos veganos. E também não estou dizendo que eu não faço pratos veganos, mas a minha especialidade e o meu propósito não é fazer. Principalmente agora no debate de clima, debate de sustentabilidade, onde na minha terra, no meu estado, no meu país, a gente tem que ter a oportunidade de levar essa mensagem de que um peixe pode sustentar todas as pessoas que moram na beira do rio e as pessoas que moram na beira do rio podem sustentar os peixes para estarem vivos, porque esse peixe iria entrar em extinção e ninguém sabia”, afirmou ele.
Jennings explicou que houve uma conversa para a negativa em cozinhar um menu especial para o príncipe. “Houve a insatisfação sim de dizer por que um evento de sustentabilidade tem que ser vegano ou vegetariano e não pode ser de cultura nacional?.”
Manejo sustentável do pirarucu
O chef compartilhou sua experiência de 16 anos com o projeto de manejo sustentável do pirarucu, destacando como a valorização gastronômica pode contribuir para a preservação das espécies.
Durante a entrevista, Jennings apresentou um risoto preparado com pirarucu e ingredientes típicos de Santarém, demonstrando como a gastronomia pode unir tradição e inovação. O prato inclui feijão manteiguinha, ervas locais e queijo da região, exemplificando a riqueza e diversidade da culinária amazônica.
Com sua participação prevista na COP30, em Belém, Jennings pretende apresentar aos líderes mundiais como a gastronomia pode ser uma ferramenta de desenvolvimento sustentável. “Espero que esses líderes tenham um bom clima à mesa e que levem daqui as melhores soluções para o clima do mundo”, concluiu.