Uma pesquisa mostrou que parte dos brasileiros está trocando o descanso no tempo livre pelas telas: 35% das pessoas dizem que “não fazer nada” é, na verdade, mexer no celular. Entre os que passam esse tempo de ócio no celular, 40% relatam tédio, culpa ou ansiedade. Os dados são da base Página 3, que ouviu 1.045 respondentes em todo o país.
O trabalho mostra que o ócio deixou de ser sinônimo de descanso para quem troca o “fazer nada” pelo uso do celular. Por outro lado, aqueles que optam por se desconectar, deitar ou apenas ficar offline tendem a associar o ócio a uma sensação real de tranquilidade. Porém, trata-se de uma minoria: entre todos os entrevistados, 56% relacionam o ócio ao relaxamento, 6% citam alívio e 7% prazer.
“Hoje, passar um tempo sem fazer nada é cada vez mais incomum. A tela preenche esses espaços, mas dificilmente traz descanso real. O que deveria ser ócio, muitas vezes, é absorvido por informações e estímulos digitais, e a sensação de tempo livre se perde”, afirma Georgia Reinés, co-fundadora da Página 3 e especialista em comportamento e tendências.
Brasileiros querem mais “tempo de qualidade”
Os achados da pesquisa da Página 3 vão ao encontro de outro estudo recente, realizado pela Orbit Data Science com base em mil conversas públicas mapeadas nas redes sociais X e Bluesky. Segundo o trabalho, 2,2% mencionam o uso do telefone como forma de relaxar, enquanto 2,7% afirmam que “menos tela” significa mais qualidade de vida.
Além disso, cerca de 10% reconhecem a necessidade de se afastar do aparelho para estar mais presentes, um paradoxo que revela como o digital é, ao mesmo tempo, ferramenta de conexão e fonte de dispersão
O estudo também mostra que o brasileiro quer viver de forma mais leve, fora da experiência on-line e longe das telas, buscando pausas, vínculos e experiências simples, como cozinhar junto, conversar, rir sem pressa como sinônimo de amor e bem-estar.
Segundo a análise, quase 40% das menções tratam o tempo de qualidade como forma de expressar amor e vínculo, enquanto 9% associam o tema à criação de memórias afetivas.
Mas a busca por esses momentos esbarra em alguns obstáculos: mais de 60% das pessoas citam o excesso de obrigações como principal barreira para viver tempo de qualidade, seguido pela falta de disposição ou companhia com quem realmente se identificam (15,8%).
Para além das relações pessoais, o estudo mostra que o “tempo de qualidade” se tornou também valor social: aproximadamente 6% dos comentários analisados associam o tema à ideia de “direito”, sobretudo entre mulheres e cuidadores. Em contrapartida, 2% veem esses momentos como “privilégio”, sinalizando desigualdades no acesso ao descanso e lazer.
“As pessoas estão redesenhando seus valores em torno do tempo. Ele deixou de ser apenas um recurso produtivo e passou a ser uma métrica de afeto. E isso muda a forma como nos relacionamos com marcas, trabalho e relacionamentos”, afirma Lena Império, gerente de projetos da Orbit Data Science.