Um bebê de três meses passou por uma cirurgia não autorizada na língua no Hospital Municipal Ermelino Matarazzo, na zona Leste de São Paulo, na última quarta-feira (3).
De acordo com a mãe do menino, Bruna Gonçalves da Silva, a criança precisava de um procedimento para retirar um dedo extra de ambas as mãos, mas em vez disso ele passou por uma frenectomia lingual – procedimento de corte do freio da língua.
A família afirma que o bebê tem sofrido com dores após a cirurgia lingual. O menino não consegue mamar, beber água e sente enjoos. “No primeiro dia mesmo, foi muito choro. Ele é um menino que não costuma chorar”, diz Bruna. “Ele só conseguiu tomar uma mamadeira no dia. Sendo que ele costuma tomar mais de quatro”.
O caso foi registrado como lesão corporal no 62º Distrito Policial de São Paulo. Nesta sexta-feira (5), o bebê já está conseguindo mamar um pouco mais, mas ainda tem dificuldade de engolir. “Eu não consegui acreditar ainda. Eu choro muito, fico muito pensativa, não consigo dormir. Fico toda hora olhando pra ver se está acontecendo alguma coisa, se ele está dormindo bem”, relata Bruna.
A mãe soube da cirurgia lingual apenas quando o filho retornou do centro cirúrgico. A médica responsável pelo procedimento entregou uma receita para Bruna e a orientou a respeito da medicação e a colocar gases na língua do bebê em caso de sangramento e excesso.
Bruna conta que o filho ainda estava com o dedo extra em ambas as mãos e a médica demonstrou confusão e perguntou o nome completo do bebê. De acordo com a mãe, havia uma criança à espera de atendimento que tinha o mesmo nome de seu filho.
Após o ocorrido, a médica teria dito que a equipe avaliou que a frenectomia também era necessária no caso do bebê, mas Bruna acredita que houve troca dos prontuários das crianças.
Ela afirma que o filho já tinha sido examinado antes, em outras unidades de saúde, e nunca foi diagnosticado com qualquer problema na língua ou teve dificuldade para mamar.
Após a conversa com a mãe, a médica retornou com bebê para o centro cirúrgico para retirar os dedos extras.
Em nota, a SSP-SP (Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo) informou que requisitou perícia e orientou a mãe sobre o prazo para formalizar a representação criminal, o que não ocorreu até a manhã desta sexta-feira (5).
Bruna, conforme orientada pela polícia, levou o filho ao IML (Instituto Médico Legal) ainda na quarta-feira, onde ele passou por exame de corpo de delito. A família também registrou uma reclamação na Ouvidoria do SUS e diz ter áudios da médica e da diretora do hospital que comprovam o erro de procedimento.
Em nota, a Secretaria Municipal da Saúde informou que a equipe de cirurgia pediátrica identificou a necessidade da frenectomia, além da cirurgia dos dedos. Segundo a pasta, os dois procedimentos foram realizados sem qualquer intercorrência e a criança recebeu alta no mesmo dia com quadro clínico estável.