A vitória de candidatos da direita no Chile e em outros países da América Latina não significa, necessariamente, que o mesmo movimento se repetirá no Brasil na eleição presidencial de 2026. A avaliação é de Christopher Garman, diretor-executivo para as Américas do grupo Eurasia, que defende cautela ao extrapolar tendências regionais para o cenário brasileiro.
“Precisamos ir com muita cautela para fazer uma afirmação como essa”, afirmou Garman ao analisar se o avanço da direita em países vizinhos indica um desfecho semelhante no Brasil.
Segundo ele, há um fator comum que tem impulsionado candidaturas conservadoras na região: a crescente preocupação com a segurança pública. “Pesquisas de opinião mostram que segurança pública é a grande preocupação não só no Chile, mas também na Colômbia, no Peru e no Equador”, disse.
Nesse contexto, Garman observa que a direita avança ao explorar um ponto historicamente sensível para governos de esquerda. “Candidatos da direita têm se beneficiado dessa preocupação, reconhecendo que a segurança pública é um ‘calcanhar de Aquiles’ tradicional da esquerda”, destacou.
Apesar disso, o analista ressalta que o Brasil apresenta uma diferença relevante em relação a esses países: o nível de aprovação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“No Chile, por exemplo, o presidente Gabriel Boric, da esquerda, tinha uma aprovação popular de cerca de 30 pontos percentuais. Hoje, a aprovação popular do presidente Lula está rodando entre 46% e 48%”, afirmou.
Com base em um cenário histórico de eleições globais, Garman pondera que esse patamar de aprovação é um fator decisivo. “Olhando uma base de 500 eleições nos últimos 30 a 40 anos, qualquer presidente com aprovação entre 46% e 48% tem um alto índice de reeleição”, enfatizou.
Para ele, a segurança pública seguirá como um ponto vulnerável do governo. “Sem dúvida nenhuma, a segurança pública vai ser um grande calcanhar de Aquiles do presidente Lula em 2026, e qualquer candidato da oposição vai ser competitivo por causa disso”, avaliou.
Ainda assim, Garman alerta para os riscos de subestimar um presidente bem avaliado. “Apostar contra um governante com aprovação de 46% a 48%, com desemprego estruturalmente baixo, em torno de 6%, e com a renda real tendo crescido nos últimos três anos, é temerário”, concluiu.