Três investidores proeminentes, sem praticamente nada em comum, estão se desfazendo de suas ações da Nvidia, a gigante dos chips de computador que passou da relativa obscuridade à primeira avaliação de US$ 5 trilhões do mundo em apenas três anos.
É difícil exagerar os superlativos da Nvidia. Sozinha, ela representa 8% do valor total do S&P 500. Seu lucro líquido anual cresceu mais de 580% entre 2023 e 2024.
Tornou-se quase uma piada em Wall Street que a empresa consistentemente supera as expectativas, registrando trimestre após trimestre de ganhos financeiros, graças à demanda aparentemente inesgotável por seus sofisticados chips, que são essenciais para a construção de modelos de inteligência artificial como o ChatGPT da OpenAI ou o Claude da Anthropic.
Então, por que vender agora? Apostar contra a Nvidia agora não seria como apostar contra os Bulls de 1995? (Ou seja, você estaria louco de fazer isso)?
Talvez não. Existem inúmeras razões pelas quais os investidores venderiam ações da Nvidia, mas o momento dessas movimentações recentes está alimentando preocupações de que a empresa — e, por extensão, todo o setor de IA — faça parte de uma bolha especulativa prestes a estourar.
Na segunda-feira (17), um documento regulatório revelou que o fundo de hedge do bilionário da tecnologia Peter Thiel vendeu, em algum momento durante o trimestre encerrado em setembro, toda a sua participação na Nvidia — todas as 537.742 ações, que valeriam cerca de US$ 100 milhões em 30 de setembro, o último dia do trimestre.
A divulgação, três dias antes da divulgação dos resultados da Nvidia, deixou os investidores apreensivos, já que estão nervosos sobre quando, ou se, verão o retorno de seus investimentos em IA.
A revelação de Thiel ocorreu dias depois de o conglomerado japonês SoftBank ter anunciado a venda de todas as suas participações na Nvidia por US$ 5,8 bilhões.
E, no início deste mês, Michael Burry — o investidor do caso “A Grande Aposta”, que previu o colapso do mercado imobiliário em 2008 — revelou que seu fundo de hedge havia comprado US$ 9,2 milhões em opções de venda (put) contra a Nvidia e a Palantir, outra empresa promissora de inteligência artificial, apostando essencialmente na queda de suas ações.
O que Thiel, Burry e o SoftBank sabem sobre a Nvidia que o resto de nós não sabe? O que eles estão vendo que o resto de Wall Street não consegue (ou não quer) ver?
Sem dúvida, todas essas pessoas tinham seus motivos, e nem todas estão apostando diretamente contra a Nvidia ou a IA.
O SoftBank e seu CEO, Masayoshi Son, continuam totalmente a bordo da onda de entusiasmo em torno da IA. Mas eles também precisavam levantar uma grande quantidade de dinheiro em breve para concluir um investimento de quase US$ 23 bilhões na OpenAI, o que os levou a realizar seus lucros com a Nvidia.
A posição de Burry é muito mais cética.
Em uma postagem no X, Burry escreveu que acredita que as grandes empresas de tecnologia estão “subestimando a depreciação” do principal produto da Nvidia — essencialmente, elas logo terão um monte de equipamentos obsoletos e estão subestimando o quanto isso afetará seus resultados financeiros.
Os representantes de Thiel, cofundador da gigante de software de vigilância Palantir e alguém que, segundo relatos, acredita que a regulamentação rígida da tecnologia de IA acelerará a chegada do Anticristo, não responderam ao pedido de comentário.
Thiel já havia adotado uma posição bastante conservadora sobre IA, declarando a Ross Douthat, do New York Times, que a tecnologia é “mais do que insignificante”, mas “menos do que a transformação total da nossa sociedade”.
O momento dessas movimentações — ocorrendo no mesmo trimestre em que a Nvidia atingiu um valor de mercado de US$ 5 trilhões (agora caiu para meros US$ 4,5 trilhões) — pode ser pura coincidência. Mas certamente não está ajudando a acalmar os ânimos em Wall Street.
“Não dou muita importância ao momento escolhido pelas pessoas em relação a essas questões”, disse Paul Kedrosky, sócio da SK Ventures, à CNN Internacional.
“Mas acho que houve uma espécie de mudança de paradigma em relação à forma como as pessoas pensam sobre toda essa área e quais são as suposições razoáveis sobre o crescimento futuro.”
As ações da Nvidia caíram 2% na segunda-feira (17), mesmo com analistas prevendo mais um sólido relatório de resultados na quarta-feira (19).
Outras ações de tecnologia e criptomoedas seguiram a tendência, arrastando o mercado em geral para baixo. O VIX (índice de volatilidade), o indicador de medo de Wall Street, subiu 13%. O índice de medo e ganância da CNN Internacional operou em “medo extremo” e atingiu seu nível mais baixo desde o início de abril.
“Acho que estamos num ponto de inflexão desta bolha”, disse Mike O’Rourke, estrategista-chefe de mercado da JonesTrading, à CNN Internacional na segunda-feira.
“E aí temos todas essas outras coisas que foram extremamente especulativas este ano”, acrescentou, citando a alta das criptomoedas e a expansão das empresas de tesouraria de ativos digitais.
“Agora você viu esse aspecto altamente especulativo começar a se dissipar, e eu não me surpreenderia se isso se espalhasse e as pessoas ficassem um pouco mais cautelosas”.