Análise: EUA encaram teste do Kremlin para acabar com a guerra na Ucrânia

Dentro do exclusivo clube privado Shell Bay do Witkoff Group, no sul da Flórida, as delegações de Washington e Kiev se enfrentaram em negociações “difíceis, mas muito construtivas”.

Segundo participantes, os encontros foram acompanhados de fartas porções de borscht ucraniano, uma sopa de beterraba e repolho que rica em carne.

Mas o fato de ter sido servido, juntamente com o Holubtsi, rolinhos tradicionais de carne e repolho, foi visto como um aceno bem-vindo à cultura ucraniana – um gesto diplomático inteligente, enquanto os EUA tentam persuadir a Ucrânia a ceder em um acordo de paz com a Rússia.

Uma fonte disse à CNN que as intensas negociações foram um “passo adiante” e “baseadas no progresso alcançado em Genebra”, onde ocorreu, na semana passada, a primeira rodada de discussões sobre as propostas americanas para encerrar o conflito no leste europeu.

Incluindo a delegação ucraniana, as conversas envolveram o secretário de Estado americano Marco Rubio, o enviado especial Steve Witkoff e o genro do presidente Donald Trump, Jared Kushner.

“Seria muito prematuro dizer que finalizamos tudo, pois ainda há muita coisa a ser feita”, disse a fonte à CNN.

“Mas a reunião foi muito focada e os aspectos mais problemáticos das propostas de paz foram discutidos em detalhe”, acrescentou a fonte, sugerindo que progressos provisórios em algumas áreas poderiam ser alcançados.

Principais pontos em negociação

Um dos aspectos mais “problemáticos” da proposta original de paz dos EUA, composta por 28 pontos, era a estipulação de que a Ucrânia renunciasse formalmente à sua aspiração, consagrada em sua constituição, de ingressar na Otan – uma exigência fundamental da Rússia para o fim da guerra e algo que as autoridades ucranianas continuam a rejeitar.

No entanto, a fonte da CNN afirma agora que os negociadores discutiram um possível cenário em que a Ucrânia seria efetivamente impedida de aderir à aliança militar ocidental liderada pelos EUA, por meio de acordos que teriam de ser negociados diretamente entre os Estados-membros da Otan e Moscou.

“A Ucrânia não será pressionada a rejeitar oficialmente, no sentido jurídico, essa aspiração”, disse a fonte à CNN.

“Mas se os Estados Unidos têm algo a acordar bilateralmente com a Rússia, ou se a Rússia quer receber garantias da Otan multilateralmente, então isto não significa envolver a Ucrânia no processo de tomada de decisões”, acrescentou a fonte.

A decisão final sobre o que seria um compromisso extremamente delicado, provavelmente impopular entre os países da Otan, ainda não foi tomada e, em última instância, será decidida pelo presidente ucraniano, enfatizou a fonte à CNN.

Mas isso sugere que, à medida que as negociações entre os EUA e a Ucrânia prosseguem e Witkoff viaja a Moscou para conversas no Kremlin, soluções criativas para contornar as linhas vermelhas de Kiev estão sendo exploradas.

Exigências maximalistas do Kremlin

Pode haver ainda outro fator que irá desmascarar nos próximos dias: um Kremlin que até agora se recusou a refrear quaisquer de suas exigências maximalistas para subjugar a Ucrânia antes de pôr fim à guerra.

Em meio a indícios de que negociadores americanos estão negociando concessões com a Ucrânia, o próximo e maior desafio na diplomacia itinerante dos Estados Unidos pode ser convencer a Rússia a aceitá-las.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse na segunda-feira (1º) que conversou com os líderes do Reino Unido e da França, além de Witkoff, antes dos encontros do enviado americano em Moscou.

“Juntamente com o presidente francês @EmmanuelMacron e com a participação do primeiro-ministro britânico @Keir_Starmer, acabamos de conversar com o chefe da delegação ucraniana, Rustem Umerov, e com o enviado especial do presidente dos EUA, Steve Witkoff, após a reunião das delegações da Ucrânia e dos EUA na Flórida”, disse Zelensky na segunda-feira.

“Foi uma reunião informativa importante e concordamos em discutir mais detalhes pessoalmente”, acrescentou.

FONTE

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *