Análise: Anúncio de Trump dá alívio à Ucrânia, mas evita sanções rigorosas

Os comentários de Donald Trump sobre a Ucrânia nesta segunda-feira (14) estavam longe de ser o maior anúncio que o presidente dos Estados Unidos poderia ter feito.

As boas notícias para o governo ucraniano são familiares. Trump permitiu que outros integrantes da Otan, a aliança militar ocidental, comprem armas americanas – uma ampla gama delas, ao que parece.

Isso inclui os mísseis interceptores Patriot, urgentemente necessários na Ucrânia, e as baterias que os disparam. Trump chegou a sugerir que havia 17 deles “de sobra” em um país da Otan.

Quaisquer sejam os detalhes desse pacote de armas que a Otan eventualmente venha a oferecer, é exatamente o que Trump sugeriu no fim de semana e exatamente o que a Ucrânia precisa.

Os bombardeios noturnos com mísseis balísticos russos só podem ser interrompidos por mísseis Patriot americanos, e somente a Casa Branca pode autorizar seu fornecimento.

A Ucrânia tinha escassez desses dispositivos e de outras armas americanas sofisticadas que podem não ter sido mencionadas, mas que podem estar incluídas no acordo.

Este é um alívio vital e de curto prazo.

Mas outro ponto relevante está no que não foi anunciado: sanções secundárias contra clientes da energia russa, o que poderia esvaziar significativamente os cofres de Moscou.

O escopo das sanções propostas por um projeto de lei no Senado dos EUA – potencialmente 500% sobre todo o comércio com aqueles que compram hidrocarbonetos russos – teria sido devastador.

E essas sanções atingiriam a China e a Índia – o principal rival e principal aliado dos EUA, respectivamente – em um momento em que os preços do petróleo estão baixos, mas a turbulência comercial é alta.

Os danos aos mercados de energia seriam palpáveis, e os EUA também seriam impactados por prováveis preços mais altos do petróleo.

Mas isso vem com um atraso significativo, juntamente com a ameaça um tanto ineficaz de sanções contra a própria Rússia (quase não há comércio a ser penalizado).

Os 50 dias de prazo para um acordo dão a Vladimir Putin até setembro para Trump mudar de ideia, ou para que a suposta nova ofensiva russa altere a realidade do campo de batalha a ponto de Putin se contentar em buscar um congelamento do conflito.

Isso cria uma janela na qual Índia e China podem tentar parar de depender da energia russa – improvável dada sua dependência e quão complexo isso seria – ou talvez pressionar Moscou para encerrar a guerra.

Essa também é uma tarefa difícil para China, cujas autoridades indicaram recentemente que não podem ver a Rússia perder o conflito sem correr o risco de os Estados Unidos voltarem toda a sua atenção para sua rivalidade.

O prazo também mostra que Trump ainda não desistiu do aspecto mais evasivo de sua política para a Ucrânia: que o Kremlin realmente quer a paz e ainda precisa ser persuadido adequadamente a isso.

Assim, o presidente novamente estendeu o prazo para pressionar a Rússia a um acordo. Já passamos por isso antes, e Putin deixou o relógio passar zunindo por sua orelha.

No entanto, é importante aproveitar a mudança de tom de Trump – a música ambiente talvez seja a indicação mais duradoura da política da Casa Branca do que os detalhes fornecidos.

Houve um momento relevante em que Trump parou antes de quase chamar Putin de assassino e contar casos nos quais a primeira-dama o lembra da violência com que Kiev é atingida por drones e mísseis russos.

O presidente dos EUA oscilou intensamente entre todas as fases de Putin – a esperança de que a paz era possível, um breve verão de diplomacia no Golfo e em Istambul, um declínio nas relações e agora o mesmo descontentamento que foi a posição padrão do presidente Joe Biden.

No entanto, após seis meses, nos quais a diplomacia russa – com sua natureza sintética e performática, combinada com demandas cínicas e maximalistas – demonstrou sua força, Trump ainda não desistiu de convencer o Kremlin a interromper voluntariamente sua guerra existencial de escolha.

O presidente dos EUA também se esquivou de algumas das opções mais difíceis disponíveis. Nenhum novo aporte dos EUA será destinado à Ucrânia, e também não ouvimos nada publicamente sobre a entrega de novos dispositivos.

A política dele para a Ucrânia mudou de humor, talvez, mas mantém elementos-chave de seu passado. Um desejo de que qualquer um, exceto os EUA, pague a conta; prazos para ação, em vez de consequências imediatas para a inação; e uma crença desconcertante de que o Kremlin quer a paz.

A Ucrânia ficará aliviada por ora, mas também poderá em breve sentir uma sensação familiar de decepção.

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