A Amazônia está próxima de atingir um ponto crítico de degradação ambiental que pode resultar em mudanças irreversíveis para o bioma, alerta Carlos Nobre, meteorologista e pesquisador pioneiro no estudo do fenômeno da savanização da região, em entrevista ao CNN Novo Dia.
O cientista, que iniciou suas pesquisas no final dos anos 1980, quando a Amazônia apresentava apenas 7% de área desmatada, revela que atualmente o desmatamento atinge entre 17% e 18% de toda a região, chegando a 22% na porção brasileira do bioma.
Sinais de degradação
“A Amazônia é um dos ecossistemas mais próximos do ponto de não retorno do mundo”, alerta Nobre. Dados coletados ao longo de 26 anos de pesquisa mostram que uma extensa área de 2,5 milhões de quilômetros quadrados, abrangendo o sul do Pará, norte do Mato Grosso, sul do Amazonas, Acre, Rondônia e Bolívia, já apresenta alterações significativas. “Em todo o sul da Amazônia, a estação seca já está de 3 a 4 semanas mais longa”, explica. O especialista destaca que a região tem índices 20% a 30% mais baixos de umidade e temperaturas até 3 graus mais elevadas.
Se o ponto de não-retorno for ultrapassado, Nobre adverte que entre 30 e 50 anos cerca de 70% da floresta amazônica pode ser perdida. O pesquisador ressalta que o bioma desenvolveu, ao longo de milhões de anos, mecanismos únicos de estabilidade climática, tendo absorvido mais de 150 bilhões de toneladas de carbono.
Impacto nos “rios voadores”
Um dos aspectos mais preocupantes é o comprometimento do sistema de reciclagem de água da floresta, conhecido como “rios voadores”. Este sistema é responsável por 45% do vapor d’água que entra na bacia amazônica pelo Oceano Atlântico, sendo fundamental para o regime de chuvas em diversas regiões.
O mecanismo natural influencia diretamente o clima de outras regiões do continente, sendo responsável por 40% a 50% das chuvas no Cerrado e 30% a 35% na região que abrange o sul do Brasil, Uruguai, Paraguai e norte da Argentina. Além disso, a Amazônia abriga a maior biodiversidade do planeta, resultado de milhões de anos de evolução biológica e ecológica.