Embora o câncer de pele seja frequentemente associado a áreas amplas e mais expostas do corpo, como rosto, braços e pernas, médicos acenderam alerta sobre um aumento de casos em regiões menores e muitas vezes esquecidas na rotina de proteção solar. Orelhas, lábios, couro cabeludo, pálpebras e nariz concentram uma incidência crescente da doença, impulsionada pela exposição intensa ao sol e pela baixa adoção de medidas preventivas, revelaram especialistas à CNN.
O câncer de pele segue como o mais incidente no Brasil. Dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA) indicam que o tipo não melanoma representa cerca de 31% de todos os novos diagnósticos no país, enquanto o melanoma — forma mais agressiva da doença — soma aproximadamente 8,9 mil novos casos por ano.
Segundo especialistas, a falta de reaplicação do protetor solar e o uso inadequado de produtos específicos para as áreas do corpo menos expostas aumentam significativamente o risco.
“As orelhas e os lábios estão entre os locais mais comuns para o surgimento de câncer de pele, justamente porque as pessoas aplicam menos protetor solar ou simplesmente esquecem dessas regiões”, explica Cinthia Bognar, especialista da Oncologia Américas e coordenadora da Oncologia do Hospital Alvorada de Moema, da Rede Américas.
Segundo informações do INCA, as orelhas aparecem com mais frequência em homens, especialmente devido ao uso de cabelo curto; os lábios sofrem com a ausência de protetores labiais com FPS; o couro cabeludo é uma região crítica entre pessoas calvas; e pálpebras e nariz recebem, em geral, menor quantidade de protetor solar.
“Essas regiões possuem pele mais fina, recebem radiação direta e têm menor proteção natural. Por isso, o tumor pode surgir mais rapidamente e, em alguns casos, evoluir de forma mais agressiva”, afirma Cícero Martins, especialista da Oncologia Américas e do Hospital Samaritano Barra, da Rede Américas.
Fatores de risco
Segundo os especialistas, o desenvolvimento do câncer de pele está ligado a uma combinação de fatores, como exposição solar acumulada ao longo da vida — especialmente sem proteção e nos horários de pico, entre 10h e 16h —, fototipo claro, hábitos profissionais ou esportivos ao ar livre e falta de reaplicação do protetor solar. O bronzeamento artificial, classificado como cancerígeno pela Organização Mundial da Saúde (OMS), também figura entre os principais riscos.
Outros grupos merecem atenção especial, como pacientes imunossuprimidos, incluindo transplantados, que apresentam risco significativamente maior.
“Estamos vendo um crescimento importante de tumores justamente nas regiões que as pessoas costumam esquecer de proteger”, observa Fernanda Guedes, oncologista do Hospital Brasília, da Rede Américas.
Como prevenir
Para reduzir os riscos, os especialistas reforçam a necessidade de cuidados diários com as áreas mais negligenciadas. A recomendação é o uso de protetor solar com FPS 30 ou mais na rotina e FPS 50 em situações de exposição direta, aplicado generosamente e reaplicado a cada duas horas, incluindo orelhas, nuca, nariz e pálpebras.
No caso dos lábios, produtos específicos com FPS 30 ou superior devem ser reaplicados após comer, beber ou usar máscara. Chapéus de aba larga e óculos com proteção UV funcionam como barreiras físicas importantes, especialmente para couro cabeludo e região dos olhos. Evitar o sol nos horários mais intensos, não recorrer ao bronzeamento artificial e manter a pele hidratada também fazem parte das orientações.
Além disso, a observação contínua é fundamental. Manchas, feridas que não cicatrizam, nódulos ou áreas sensíveis devem ser avaliados por um dermatologista. A recomendação é realizar consultas anuais, ou semestrais para pessoas de maior risco.
“A prevenção começa nos hábitos cotidianos. Atitudes simples, como reaplicar o protetor e usar proteção labial com FPS, fazem toda a diferença para reduzir o risco”, conclui Fernanda Guedes.