“A favela quer viver”: rappers reagem à operação no Rio de Janeiro

Rappers brasileiros se posicionaram nas redes sociais contra a operação policial mais letal da história do Rio de Janeiro, que deixou mais de 100 mortos na capital. A ação, conduzida por forças estaduais, foi criticada por por artistas que costumam retratar a violência nas favelas em suas letras.

Com músicas, vídeos e publicações, nomes como DK47, Djonga, Don L, MC Maneirinho, Lord e Major RD comentaram o resultado da operação e questionaram o foco das ações policiais em áreas de favela.

Roger Amorim, conhecido como DK47, foi um dos primeiros e mais esperados nomes do rap a se manifestar. Além de músico, ele é líder comunitário e fundador do projeto social Favela Cria. O artista também integra o grupo ADL (Além da Loucura), que aborda temas como racismo, violência policial e desigualdade.

Nas redes, DK47 compartilhou uma foto dos corpos deixados pela operação e escreveu: “A favela quer viver.” A publicação repercutiu e dividiu opiniões. Parte dos comentários criticava o artista por se manifestar, e ele mesmo republicou algumas dessas reações. Em uma delas, um internauta afirmou: “Eu quero ela destruída.”

Na publicação, DK relembrou um trecho da sua participação em “Favela Vive 3”, que cita a relação entre eleições e operações em favelas.

Outro integrante do grupo, Lord, também se manifestou. Ele publicou um vídeo comparando a operação no Rio com investigações realizadas em áreas de maior renda em São Paulo.

“Seguimos aguardando uma operação dessas nos condomínios da Barra da Tijuca, nos prédios da Faria Lima, na Câmara dos Deputados. Seguimos esperando uma operação dessas onde estão os verdadeiros bandidos. Os bandidos do topo, da ponta”, disse.

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O rapper MC Maneirinho publicou um texto nas redes sociais em que criticou a violência e disse que a operação deixou marcas nas comunidades afetadas. Ele também citou a dimensão política das ações de segurança pública.

“Essa é a imagem que vai rodar o mundo e hoje o Rio amanheceu mais seguro? […] Colocar outras mortes covardes pra tirar algo de positivo nessa imagem é inaceitável. […] Eu posso ter meus defeitos, mas tenho coração, mano. Não tem como achar isso aqui normal. Eu tô do lado do morador que não tem voz. […] Essa intervenção já dura 40 anos e nada mudou, família. Nem vai mudar, porque não é do chão que aparecem as armas e as drogas. Alguém traz, e serão as mesmas que são mostradas pra vocês, infelizmente.”

O rapper mineiro Djonga também se posicionou. Em suas redes, ele afirmou que o Estado continua adotando a violência como resposta aos problemas sociais.

“A violência segue sendo a única resposta do Estado pro problema que ele mesmo ajuda a criar com falta de estrutura básica pra um ser humano viver minimamente bem.”

O rapper comentou ainda a dificuldade de empatia de parte da população e disse que os responsáveis por financiar o crime não são alcançados pelas operações.

Em outra publicação, Djonga relembrou a capa do álbum “Histórias da Minha Área”, de 2019, que mostra o rapper cercado por corpos ensanguentados e escreveu: “Quando eu lembro de todas as capas que já fizemos, essa é a que conta a história mais diretamente que a gente quer que as pessoas enxerguem. Mas no fundo é a que eu menos gosto de olhar”.

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Don L publicou uma lista de ex-governadores do Rio de Janeiro investigados ou condenados por corrupção. Em seguida, escreveu: “As maiores apreensões de armas não foram em favelas. Se quisessem combater o crime, fariam de cima pra baixo.”

O também rapper Major RD criticou as manifestações de apoio à operação. “Pessoal na internet que nunca pisou na favela, que bate palma pra esse tipo de operação, deve achar que a polícia chega lá pedindo licença. A polícia destrói tudo com força bruta.

A ação das forças de segurança, realizada na terça-feira (28), deixou ao menos 119 mortos. Segundo a Secretaria de Segurança, 58 corpos foram encontrados no dia da operação e outros 61 localizados em uma mata nesta quarta.

Foram presos 113 suspeitos — 33 de outros estados — e apreendidos 10 menores. Os agentes recolheram 118 armas, incluindo 91 fuzis, além de explosivos e drogas.

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