Faltando apenas dois dias para a abertura oficial da COP30 (30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima), que ocorrerá pela primeira vez no Brasil, Belém (Pará) se prepara para se tornar o epicentro mundial da agenda climática.
Com delegações de mais de 160 países já instaladas na cidade, uma intensa movimentação propicia a expectativa de uma das maiores e mais pluralmente representativas conferências da história.
A conferência inicia oficialmente na segunda-feira (10), mas as atividades prévias já reuniram representantes de peso.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva encerrou a Cúpula de Líderes na sexta-feira (7), reiterando a necessidade de que os países ricos assumam a maior parte da responsabilidade pela crise climática. Para Lula, é legítimo exigir que quem mais emite gases de efeito estufa pague mais pela transição.
“A maior parte da riqueza mundial gerada nas últimas quatro décadas foi apropriada por indivíduos ou empresas”, disse Lula, destacando uma pesquisa da ONG Oxfam que mostra que uma pessoa pertencente ao 0,1% mais rico do planeta emite, em um único dia, mais carbono do que os 50% mais pobres da população mundial durante um ano inteiro.
“Exigir adequação de países em desenvolvimento é injusto”, afirmou. Ele argumentou que não há sentido ético ou prático em exigir que países em desenvolvimento paguem juros para preservarem seus territórios, florestas.
Nos últimos dias, disparou o número de países que submeteram as NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas), que são os documentos que detalham as promessas para a UNFCCC (Convenção do Clima da ONU).
A quantidade de NDCs entregues subiu de 64 para 106, segundo Ana Toni, CEO da COP30, revelou à CNN Brasil na sexta-feira (7).
”Estamos de fato conseguindo fazer da COP30 a conferência da implementação prática”, afirmou a CEO.
Fundo Florestas Tropicais para Sempre
Além do empenho político, o Brasil coordena também iniciativas inovadoras na área financeira.
O TFFF (Fundo Florestas Tropicais para Sempre), lançado durante a cúpula, já acumula US$ 5,5 bilhões em compromissos financeiros de países como Brasil, Noruega, Indonésia, França, Portugal e Noruega — e registrou o primeiro aporte privado da fundação do bilionário australiano Andrew Forrest no valor de US$ 10 milhões.
“Não é uma doação, é um investimento com retorno sustentável, comprovando que proteger florestas pode ser um negócio rentável”, disse Forrest à Agência Brasil. O TFFF visa reunir até US$ 25 bilhões nesta primeira fase, com a perspectiva de emitir até US$ 100 bilhões em títulos para o setor privado.
Alemanha também confirmou compromisso financeiro, com o chanceler Friedrich Merz ressaltando que o valor será “considerável”, ainda pendente de definição final, mas indicando forte apoio à iniciativa.
Entre as novidades institucionais provocadas pela COP no Brasil está o funcionamento do Congresso Nacional em regime semipresencial, conforme determinação do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta.
Entre 10 e 21 de novembro, parlamentares poderão acompanhar e votar remotamente, assegurando quórum para debates importantes sobre políticas ambientais e compromissos climáticos.
Em Belém, algumas tensões marcam os preparativos. A alta dos preços em estabelecimentos e serviços da área da conferência gerou críticas e levou a reduções recentes, com oferta ampliada de produtos regionais a valores ajustados, em resposta à preocupação dos participantes e da opinião pública.
“Eu acredito que a gente vai ter quase que a totalidade das partes da ONU presente aqui em Belém. Cada dia esse número que está em negociação diminui e o número de confirmações aumenta. Então isso nos dá uma tranquilidade de saber que vamos ajeitar todo mundo. E nós estamos fazendo isso muito à la carte. Estamos ligando para as delegações, vendo qual é a necessidade, quais são os limites que têm”, afirma o secretário extraordinário da COP30, Valter Correia.
“Ao termos os planos de ação bastante sólidos e usarmos o ciclo anual da COP para turbinar esse processo, temos um motor de implementação em cima da agenda de ação”, explicou Dan Ioschpe, empresário e climate champion da COP30.
No meio do ambiente de debates, cresce a expectativa para que Belém seja palco da retomada da ambição global, rumo a limitar o aquecimento ao teto de 1,5ºC, conforme o Acordo de Paris.
Lula lembrou, nesta semana, que o mundo ainda está distante de cumprir as metas estabelecidas na última década, enquanto a cidade amazônica se prepara para ser prova viva do esforço global contra a emergência climática, com impacto direto sobre a vida de milhões e legado para as próximas décadas.
*Com informações do Estadão Conteúdo e da Agência Brasil