Fome mata 62 mil pinguins-africanos e põe espécie à beira da extinção

Desde 2024, os pinguins-africanos (Spheniscus demersus), única espécie da família que se reproduz no continente africano, está classificada na Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza – IUCN como “criticamente em perigo”, a categoria mais grave antes da extinção total do animal na natureza.

Uma confluência brutal de mudanças ambientais e hábitos humanos de pesca deixou dezenas de milhares de pinguins africanos adultos na costa da África do Sul sem alimento suficiente para sobreviver, reduzindo sua população em cerca de 95% em apenas oito anos, revela um novo estudo.

De acordo com um estudo publicado recentemente na revista Ostrich, uma confluência sinistra de mudanças ambientais e hábitos humanos de pesca pode ter matado de fome cerca de 62 mil pinguins adultos nas ilhas de Dassen e Robben, em um período de apenas oito anos, de 2004 a 2011.

Embora não seja ainda a extinção total, que só ocorre quando o último indivíduo morre, o fenômeno pode ser considerado uma extinção funcional — muitas vezes chamado de “morte em vida” — que acontece quando o papel ecológico da espécie desaparece e sua reprodução se torna inviável.

No caso do S. demersus, isso acontece quando eles deixam de ser predadores significativos de peixes e deixam de produzir guano (fezes) suficiente para fertilizar o ecossistema marinho e terrestre das ilhas. Isso porque não conseguem formar grupos eficientes para cercar os cardumes e caçá-los.

Uma muda catastrófica e uma catástrofe ambiental

Quando entram em sua muda “catastrófica”, os pinguins ficam pelados e presos em terra por 21 dias sem comer • Gustavo Sanchez/Unsplash
Quando entram em sua muda “catastrófica”, os pinguins ficam pelados e presos em terra por 21 dias sem comer • Gustavo Sanchez/Unsplash

Composta por especialistas em ornitologia, biologia marinha e conservação, a equipe liderada pelo Dr. Robert J.M. Crawford, do Departamento de Florestas, Pesca e Meio Ambiente da África do Sul, detalha no estudo o mecanismo cruel por trás dessas mortes: uma “muda catastrófica” anual.

Ao contrário do que pode parecer, o adjetivo “catastrófica” usado no estudo é na verdade um termo ornitológico que indica que, enquanto a maioria das aves troca suas penas aos poucos para continuar voando, o pinguim troca todas elas de uma vez só.

No entanto, por uma ironia trágica, o termo técnico ganhou um duplo sentido sombrio. Como a muda é catastrófica — no sentido que eles ficam pelados e presos em terra por 21 dias sem comer —, se eles não entrarem nessa fase gordos o bastante, podem morrer de fome antes de as novas penas crescerem.

Ou seja, nesse período em que perdem sua impermeabilidade à água para caçar, as aves dependem exclusivamente das reservas de gordura acumuladas. O problema é que, no período, a biomassa total da sardinha (Sardinops sagax), principal fonte de alimento dos pinguins, despencou para menos de 25% do seu máximo registrado.

A queda drástica do peso total (em toneladas) de todo o cardume disponível no mar configura um limiar ecológico que coincide com elevação constantes nas taxas de exploração pesqueira comercial, mantidas sempre acima de 20% entre 2005 e 2010, mas chegando a um pico assustador de 80% em 2006.

Principais ações para recuperar a população de pinguins-africanos

Em 2025, foram implementadas zonas de exclusão de pesca ao redor de seis colônia de pinguins • Max Lieberman/Wikimedia Commons/Reprodução
Em 2025, foram implementadas zonas de exclusão de pesca ao redor de seis colônia de pinguins • Max Lieberman/Wikimedia Commons/Reprodução

Os autores estimam que recuperar a população de pinguins aos seus níveis anteriores é uma tarefa difícil, pois depende de condições climáticas incontroláveis para a multiplicação das sardinhas. Para o coautor Richard Sherley, da Universidade de Exeter, no Reino Unido, existem medidas que podemos tomar.

Entre elas, explica o biólogo da conservação, “estratégias de gestão pesqueira que reduzam a captura de sardinhas quando o estoque cair para menos de 25% do seu pico histórico, permitindo que mais adultos sobrevivam para se reproduzir, além de medidas que protejam os peixes juvenis”.

Entre as ações que já saíram do papel, uma faz parte do “pacote de conservação” que funciona desde junho de 2000, quando o petroleiro Treasure deixou os pinguins cobertos de óleo. As ações incluem: fornecimento de ninhos artificiais, controle de predadores, bem como o resgate, reabilitação e criação manual de adultos e filhotes.

Outra ação importante, mais recente, foi a implementação de zonas de exclusão de pesca ao redor de seis colônias de pinguins. Ajustadas judicialmente e garantidas para operar durante todo o ano até pelo menos 2033, essas medidas são consideradas no artigo como a grande “esperança” para tentar reverter a tendência de morte atual.

Enquanto continuam monitorando o sucesso reprodutivo, a condição dos filhotes, o comportamento de busca por alimento, a trajetória populacional e a sobrevivência da espécie, os pesquisadores alertam:  sem alimento suficiente no mar, nem mesmo os maiores esforços de conservação em terra serão capazes de impedir a extinção do pinguim-africano.

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