Análise: Quem pode mediar a tensão entre EUA e Venezuela?

A tensão entre Estados Unidos e Venezuela tem gerado preocupação internacional, com países como Brasil e México se oferecendo para mediar o conflito. No entanto, segundo análise de Internacional da CNN Fernanda Magnotta, os principais fatores que podem influenciar as decisões de Donald Trump são de natureza doméstica, como a opinião pública americana e o mercado financeiro do país.

“Em matéria de conflito internacional, é claro que a posição de atores estratégicos não pode ser ignorada, seja porque muitas vezes eles ocupam um papel de liderança regional, como é o caso de Brasil e México, seja pela legitimidade do cargo a que se prestam certas figuras”, explicou Magnotta. Porém, a analista ressalta que o peso desses apelos internacionais é menor do que já foi em outros momentos para os Estados Unidos.

Opinião pública contrária à intervenção militar

Dados recentes de pesquisas da CBS News e YouGov revelam que aproximadamente 70% dos americanos se opõem a uma ação militar direta na Venezuela. “Mesmo entre os republicanos, cerca de 58% também se opõem a isso”, destacou a analista. Curiosamente, mesmo em áreas com grande concentração da diáspora venezuelana nos EUA, comunidade geralmente conservadora e pró-Trump, a tendência de rejeição a uma intervenção tradicional se mantém.

O mercado financeiro americano também apresenta resistência a um possível conflito militar. Segundo Magnotta, as análises indicam que uma intervenção poderia elevar custos e aumentar a instabilidade, gerando pressão inflacionária em um contexto já marcado pela crise do custo de vida nos Estados Unidos. “Isso também poderia repercutir sobre decisões macroeconômicas, como a manutenção de juros altos nos Estados Unidos, o que não agrada ao presidente Trump, que vive brigando com o Fed justamente porque quer diminuir juros”, explicou.

Perfil de política externa de Trump

A especialista lembrou que Trump, em seu primeiro mandato, demonstrou tendência a ações militares circunscritas e cirúrgicas, com maior restrição a incursões convencionais de longo prazo. “É até por isso que muita gente acredita que a estratégia, nesse momento, ainda que possa visar uma mudança de regime na Venezuela, vai se dando muito mais por esse viés do estrangulamento econômico”, analisou Magnotta.

Embora o cerco militar esteja sendo montado como aparato de segurança, a estratégia americana parece mais focada em uma abordagem de economia política do que necessariamente em uma intervenção militar convencional. “Donald Trump costuma dizer que é America First, mas a gente sabe que no governo com esse perfil é antes de America First, Donald Trump First”, concluiu a analista, sugerindo que as decisões de Trump tendem a priorizar como os eventos repercutem em sua popularidade e nas urnas americanas.

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